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Em seu leito de morte, disse Santa Mônica a seus filhos, depois de um deles preocupar-se em enterrá-la em sua terra natal:
“‘Enterrai este corpo em qualquer lugar, e não vos preocupeis com ele. Faço-vos apenas um pedido: lembrai-vos de mim no altar do Senhor, seja qual for o lugar onde estiverdes’.
Depois, continua Agostinho:
“[…] acolhe, Senhor, as livres oferendas de meus lábios. Aproximando-se o dia de sua morte, minha mãe não se preocupou em ter seu corpo suntuosamente revestido ou embalsamado com aromas, não desejou ter rico monumento, nem mesmo ter sepultura na própria pátria. Não nos pediu nenhuma dessas coisas, mas desejou somente que nos lembrássemos dela diante de Teu altar, ao qual ela não deixou um só dia de servir, porque sabia que aí se oferece a Vítima santa, pela qual ‘foi destruído o libelo contra nós’, e foi vencido o inimigo, aquele inimigo que conta as nossas faltas e procura com que nos acusar, e nada encontra naquele mediante o qual fomos vencedores.”
(Trechos extraídos das “Confissões” de Santo Agostinho, filho de Santa Mônica, falecida em 387 d.C.)
Não são poucas as vezes em que nos deparamos com a falta de Esperança entre os cristãos. Em minha família, mais de uma vez os vi lamentando a morte como o derradeiro fim; para alguns, realmente é, mas o problema é que, para essas pessoas, isso não se resume àqueles que tem motivos para temer a morte, como os infiéis, e sim para a morte em geral. A maioria das pessoas, ao mesmo tempo que acha que todos vão para o Céu, no fundo reconhece a falha de seu argumento, pois, pelo visto, não tem Esperança nenhuma na Salvação, que é mais uma das consequências da evangelização deficiente: o Sacrifício de Cristo torna-se desconhecido aos próprios cristãos.
Funeral de Santa Fina
Pergunte aos católicos “o que é a Missa?”. Alguns (muitos) vão responder algo que lembrará um culto, uma reunião, no máximo uma Ceia. Se alguém responder Sacrifício, dê graças a Deus, pois isso é raro. Esse desconhecimento já é um problema em si, e uma série de problemas o seguem: os conhecidos abusos litúrgicos, a perca da fé, da esperança de Vida Eterna, e etc. Aqui, quero focar na perda da Esperança.
Esta é uma das virtudes teologais, infusa por Deus em nossa alma, e pela qual temos como certa a ajuda divina para alcançarmos o céu. Subentende-se, então, que isso trará para a alma grande paz em seu leito de morte, assim como o trouxe para Santa Mônica. De fato, diz Agostinho: “Quando seu corpo foi levado, fomos a sepultura, e de lá voltamos sem chorar. Nem mesmo chorei durante as orações, quando oferecemos por ela o sacrifício de nossa redenção, com o corpo já colocado ao lado do túmulo, antes do enterro, segundo era costume do lugar. Nem durante essas preces chorei.”
Não que haja problema em chorar por um querido falecido; até Cristo chorou por Lázaro. Mas é a incoerência entre a suposta fé de que todos vão pro Céu (afinal, nunca vi ninguém falar: “esse deve ter ido pro Inferno”) e a tristeza como se a pessoa simplesmente tivesse sido deletada da existência. Uma vez cheguei a ouvir: “ah, a gente fica triste porque sabe que nunca mais vai ver a pessoa.”; e tenho certeza de que isso não é porque acreditam que a pessoa foi pro Inferno e esta vai pro Céu ou vice-versa. É a descrença.
Isto contrasta com a antiga (e bota antiga nisso) sociedade brasileira, católica. Quando se pergunta para alguém “o que você faria se fosse morrer amanhã?”, muitos dirão: “faria tudo que tenho direito, coisas que nunca pude, gastaria toda minha grana em diversão, bebida, etc.”, que no fundo não passa de um medo de encarar aquilo que evitou-se pensar na vida inteira, o encontro com Cristo Juiz. Pois esta resposta pareceria, no mínimo, irracional aos nossos antepassados; estes, sabiam receber a morte como uma boa amiga. Eles realmente agradeceriam a Deus quando este lhe mandasse uma doença terminal, pois muito melhor era morrer “de sobreaviso” do que ser pego de surpresa.
Havia mesmo uma certa idade, lá pelos 60 anos, em que as pessoas tornariam-se ainda mais piedosas, mais frequentes aos sacramentos, assíduas diariamente à Santa Missa, preparando-se o melhor que pudessem para o encontro com o Divino Mestre. Nos testamentos, sempre deixavam espólios para a celebração de Missas pedindo por aquela alma depois que morresse. Houve até mesmo um senhor que pediu que se rezasse uma Missa por ele até o dia do Juízo Final.
É perceptível a diferença do modo de encarar a morte entre esses dois “tipos de católicos”. Enquanto uns fingem que serão imortais e vão matando-se lentamente, os outros vêm nela, finalmente, a sua entrada na Vida Eterna.

Um aparatoso cortejo do viático leva os últimos sacramentos ao moribundo com a presença dos irmãos do Santíssimo Sacramento, do pároco, de militares, a banda de música de negros e numerosos acompanhantes.
Não é fácil, para nós, conseguir pensar como eles. Nossa sociedade não ajuda nem um pouco. Em primeiro lugar, quando estava próxima da morte, a pessoa prepararia-se bem para ela. Em segundo, quando fosse receber o Santo Viático (porque ninguém ia querer morrer sem recebê-lo), ele viria numa procissão digna e majestosa, e todos que passassem pela procissão, teriam que acompanhá-la, rezando pela alma daquele que padece. E, ainda, em terceiro lugar, o falecido seria realmente velado, em vigília de oração, tanto pelos parentes, quanto por vizinhos e até mesmo desconhecidos. Isto era normal: quando se visse um velório, entrar na casa e participar das orações. Ademais, os sinos das igrejas tratariam de avisar a todos. Quem não pudesse comparecer, rezaria por ele.
Outra coisa interessante é o Dia de Finados. É quase como se as pessoas de hoje quisessem fingir que nada aconteceu, que “não é tão importante”. Quando fui visitar meus parentes falecidos, alguns desoportunamente comentavam sobre o tijolo do túmulo, ou o galho da árvore. Rezavam um pai-nosso e uma ave-maria (se muito), e iam embora, como se tivessem visto menos que um cachorro morto. Claro que estou exagerando, e sei que o sentimento de tristeza com certeza era grande, mas visitar um túmulo não adianta muita coisa se não for para rezar! Tem até aqueles que vão num dia antes ou num dia depois, pra não pegar o cemitério muito cheio. Imagina se essas almas terão quem aplique indulgências para elas…
Eu, somente graças ao bom Deus, não tenho medo de morrer. As pessoas o têm mais frequentemente do que querem admitir; basta observar como lidam com a morte. Mas, pelas virtudes que nos infunde o Espírito Santo, temos a Esperança, que nos faz poder dizer como São Paulo “viver para mim é Cristo, e morrer para mim é ganho”.
Rezemos muito, e façamos todos os dias o Ato de Fé, de Esperança e de Caridade, que não sejam meras palavras, mas que sejam verdadeiras expressões do íntimo do coração, pedindo ao Espírito Santo que nos conserve sempre a buscar os bens celestiais. Ah, e é claro, rezemos pelas almas do purgatório, pedindo que se ofereçam Missas por elas.
Meu Deus, espero com firme confiança, que me concederás, pelo mérito de Jesus Cristo, tua graça neste mundo e a felicidade eterna no outro, porque assim o prometeste e sempre és fiel a tuas promessas.