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Odeia a religião mas ‘ama’ Jesus Cristo? … boa sorte!

31 Terça-feira Jul 2012

Posted by marcosmarinho33 in Da Santa Igreja

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Muitas pessoas, na maioria protestantes, recitam frequentemente que ‘Jesus está acima de religiões!’ e que ‘Religião não vale nada, basta Jesus Cristo’. É muito bonito e agradável, mas infelizmente, não é verdadeiro. Não sei bem qual é a intenção dessas pessoas. Devem ser como disse um ateu num vlog: ao se ver “ameaçado” com os argumentos cada vez mais frequentes das pessoas de que a religião é ruim, a religião aprisiona, ele diz “não é isso que eu vivo, o que eu vivo é ‘Jesus'”.

Sem falar nas intermináveis discussões inter-igrejas. Provavelmente devido às milhares e milhares de denominações cristãs análogas entre si, chegaram a conclusão de que religião simplesmente não decide mais nada, e é melhor pular esse passo, e ficar simplesmente com Jesus.  É muita ousadia descartar a religião em nome de Jesus, quando nem ele mesmo fez isso.

Jesus disse que ‘para chegar ao Reino dos Céus, deve-se passar pela porta estreita’. Também disse que ‘todo aquele que crer e for batizado, será salvo. Mas quem não crer, não será salvo’. Acontece que hoje as pessoas alargaram tanto essa ‘porta estreita’ que já não é mais uma porta, já é um arco do triunfo! E por isso, só não passa por ele quem não quer. E mesmo quem passa, não muda nada.

 (Arco do Triunfo, em Paris)

E embora chegar ao Reino dos Céus seja triunfante, há uma boa razão para isso. As pessoas que o alcançam tiveram que ‘ser irrepreensíveis em sua conduta‘. Ou seja, Jesus deixou sim ‘pré-requisitos’ para segui-lo além do simplesmente ‘aceitá-lo’, como muitos pregam mas ninguém sabe definir exatamente.

Há algum tempo um jovem chamado Jefferson Brethke postou um vídeo no Youtube chamado “Why I Hate Religion, But Love Jesus“, no qual, em forma de poema, ele explica porquê ele ama Jesus, que é bom, mas odeia a religião, que é má. Ele faz isso no mais estilo da Bola de Neve Church, querendo ser “estiloso” e “moderno”, espalhando veneno (ainda que doce) com as palavras encantadoras de mentes fracas.

Eis o vídeo, legendado:

Depois disso muitos católicos fizeram vídeos retrucando Brethke. Dentre eles, um padre americano de muito bom gosto fez um vídeo de contra-resposta respondendo-o na mesma moeda, intitulado “Why I Love Religion, And Love Jesus“. Também em forma de poema e com direito a todos os efeitinhos especiais que ajudaram a compensar a irracionalidade no vídeo de Brethke (embora já o padre não precisasse disso, mas fez uma bela ironia). E, de quebra, foi filmado na bela Basílica Rainha de todos os Santos. Aqui está o vídeo do Pe Burns. Pediria para que quem tem conta no Youtube, votasse no “Like” abaixo do vídeo (é, aquele joinha).

Tradução livre:

E se eu lhe disse que Jesus ama a religião
E que com a sua vinda como homem que ele trouxe a sua religião à fruição
Veja, isso tinha de ser abordado, o uso de termos e definições ilógicas
Você claramente tem um coração para Jesus, mas está alimentando opiniões ateístas
Veja, o que faz grande a religião não são erros de guerras e inquisições
É homens e mulheres quebrados participarem de sua missão
É evidente que Jesus diz Eu não vim para abolir
Eu vim para cumprir a lei e eu vim para cumprir os profetas (Mateus 5:17)
E falar sobre construir grandes igrejas e deixar de ajudar aos pobres
Soa um pouco como Judas quando o perfume estava sendo derramado (João 12:5)
Veja, a religião Dele é a maior fonte mundial de alívio
Para os pobres, os famintos, os doentes e os ladrões arrependidos
Oceanos de compaixão, abrindo as portas de largura
Para as mães solteiras, viúvas e órfãos, casado e divorciado (Tiago 1:27)
Todos detestamos a hipocrisia, e espetáculos vazios são o pior
Mas culpar a religião por contradição
É como olhar para a morte, e culpar o carro funerário.
Veja, o professor vai ensinar quando os estudantes estiverem prontos para ouvir
Mas aqueles que escolhem ficarem sentados nos bancos e recusam a boa notícia
Isso não é culpa da religião.
E se eu tiver o Jersey e estiver jogando para os Bulls
Haverá alguns limites, regulamentos e algumas regras.
Você não pode ter Cristo sem sua Igreja, você não pode ter o Rei sem o seu Reino
Pecados do Corpo e traição interna não irão jamais fazer-me sair Dele
E que Jesus disse que “está consumado”, é absolutamente verdadeiro
Mas ele também nos deu uma missão com muitas coisas para FAZER.
Jesus diz se você Me ama, você vai Fazer o que Eu mando. (Jo 15:14)
Ir e batizar em nome do Pai, Filho e Espírito em todas as terras. (Mt 28:19)
E na noite em que foi traído, Ele levou os Seus homens ao Cenáculo
Tomem e comam Este é o Meu Corpo; tomem e bebam o Meu Sangue por você.
Uma Nova Aliança você vê, um ato ligado à árvore,
Faça isso uma e outra vez em Memória de Mim. (Mt 26:26-28)
E, ao fim, com uma coroa de espinhos, batido além da compreensão
Seus olhos estavam procurando o meu e o seu, foi divino, nenhuma invenção humana.
Então quanto à religião eu a amo, eu tenho uma, porque Jesus ressuscitou dos mortos e venceu.
Eu acredito que quando Jesus disse: “Está consumado” Sua religião tinha apenas começado.

Padre Claude Burns

14/01/2012

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Entre o trono e o altar – Católica fiel às orientações do papa, a princesa Isabel abraça uma causa, alcança uma graça e se torna a redentora dos escravos no Brasil

28 Quinta-feira Jun 2012

Posted by marcosmarinho33 in Da Santa Igreja, Dos Santos e Santas, História da Igreja

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beatificação, brancos, católica, cristandade, D. Pedro II, escravismo, escravocrata, escravos, feminismo, Igreja Católica, igreja e estado, Leão XIII, Lei Áurea, libertação, monarquia, negros, Nossa Senhora Aparecida, papa, política, Princesa Isabel, religião, soberana, vaticano

O mequetrefe ironiza a anistia concedida em 1875 aos bispos durante a Questão Religiosa. Em destaque o duque de Caxias, presidente do Gabinete na época, cavalgando a Constituição, e a princesa.

O mequetrefe ironiza a anistia concedida em 1875 aos bispos durante a Questão Religiosa. Em destaque o duque de Caxias, presidente do Gabinete na época, cavalgando a Constituição, e a princesa.

Uma princesa de vassoura na mão varrendo a igreja? E ainda jogando no corpete de seu vestido o pó recolhido do chão? Apesar de estranha, a cena se passou em Guaratinguetá, em 1884. A personagem era a herdeira do trono de D. Pedro II, a princesa Isabel, que cumpria uma promessa feita anos antes à Virgem Aparecida. A graça alcançada era ter gerado filhos.

Em Petrópolis, a princesa também era vista frequentemente limpando templos católicos. De fato, ela se consumia em atividades religiosas. Cantava no coral da igreja, participava da adoração ao Santíssimo Sacramento, cuidava da ornamentação do altar. Não raro, passava o dia todo na igreja. E assim, aos poucos, começava a incomodar muita gente.

Além das práticas católicas, sua rotina era comum aos padrões das mulheres de seu tempo e de seu segmento social. Em sua casa, na Corte ou em Petrópolis, Isabel se dedicava com afinco ao cultivo de flores, tocava piano, recebia amigos e parentes, escrevia cartas. Ao lado do marido, o conde d’Eu (1842-1922), abria os salões de seu palácio em Laranjeiras para animados saraus e jantares. Mas, em meio a tudo isso, reinava uma forte religiosidade, que marcou não só sua história pessoal como também a própria História do Brasil.

A religião era uma espécie de óculos pelos quais Isabel olhava o mundo. Certa vez, ela censurou D. Pedro II por ter visitado uma sinagoga na Europa. Também implicou com sua visita àescritora George Sand (1804-1876), a quem considerava imoral. Sand era uma precursora do feminismo, defensora de ideias socialistas, famosa por suas roupas masculinas e seus casos amorosos. Uma figura bem diferente daquelas por quem, desde a infância, Isabel demonstrava admiração e devoção, como os reis e rainhas canonizados pela Igreja Católica.  São Luís de França e Santa Isabel, fosse a de Portugal ou a da Hungria, eram seus modelos. Em Caxambu, a princesa iniciou a edificação de uma igreja consagrada a Santa Isabel de Hungria. Em sua primeira viagem à Europa, fez questão de beijar as mãos de Santa Isabel de Portugal, cujo corpo encontrava-se preservado em um caixão. E conforme antiga tradição católica, além de comemorar seu próprio aniversário de nascimento, a princesa também celebrava e recebia presentes nos dias dedicados às duas santas suas homônimas e de quem descendia.

Para Isabel, o Brasil integrava a cristandade, cuja autoridade era o papa, a quem os governantes deviam respeito e submissão. Dessa forma, o exercício da política deveria estar diretamente associado à obediência a esse líder maior, preceito que determinava suas práticas religiosas cotidianas e mesmo sua conduta como regente do Império e herdeira do trono.

Durante a chamada “questão religiosa” (1872-1875), estopim das dificuldades de relação entre a Igreja e o Estado no país, a princesa tomou as dores dos bispos de Olinda e do Pará, presos em 1874 a mando de D. Pedro II por interditarem irmandades frequentadas por maçons. Os religiosos obedeciam a uma recomendação do papa não validada pelo imperador, chefe da Igreja no Brasil, conforme a Constituição do Império. Ao intervir na questão, Isabel questionou o pai. “Devemos defender os direitos dos cidadãos brasileiros, os da Constituição, mas qual a segurança de tudo isso se não obedecemos em primeiro lugar à Igreja?”.

Ospolíticos ligados ao Partido Liberal denunciavam as estreitas ligações entre a herdeira do trono, o episcopado brasileiro e o Vaticano. Como defensores da separação entre Igreja e Estado, viam em Isabel um futuro obstáculo ao seu modelo de sociedade. De fato, durante sua terceira regência (1887-1888), as discussões sobre a adoção do casamento civil, repudiado pelo catolicismo romanizado, foram trancadas no Senado.

Isabel usava sua posição privilegiada para ajudar os necessitados. Promovia concertos, bazares e leilões, mobilizando diversas redes de colaboradores, no Brasil e no exterior. Os recursos angariados eram destinados aos necessitados em maior evidência em cada momento: os refugiados da Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) na Inglaterra, as vítimas da Grande Seca do Nordeste brasileiro (1877-1879) e os feridos nas batalhas da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

No Brasil, a princesa abraçou com fervor religioso ainda maior a causa da abolição. Acolheu e alimentou escravos fugitivos em seu palácio. Fomentou campanhas e criou livros de ouro para a subscrição de doações, com o objetivo era angariar fundos para a compra de alforrias. Sua motivação cresceu a partir de 1887, quando o episcopado brasileiro, afinado com as orientações papais, promoveu intensa campanha abolicionista. Por meio de cartas pastorais, os bispos convocaram os católicos do país a promover a libertação de escravos em honra ao jubileu sacerdotal do papa. Como católica fiel às orientações papais, a regente atendeu às suas súplicas. Assim, após uma queda de braço que envolveu a demissão do Gabinete Cotegipe, a Lei Áurea foi assinada em 1888. Dias depois, ainda como princesa regente, ajudou a organizar uma gigantesca missa campal em agradecimento pelo fim da escravidão.

Sem o apoio dos fazendeiros escravistas, a monarquia parecia ameaçada. Isabel confessou mais tarde saber dos riscos que corria. “Fui alertada de que o ato não era político. Mas […] a agitação entre os escravos era crescente. Leão XIII me pressionava e como poderia eu, batizada e livre, suportar que meus irmãos em Jesus Cristo continuassem escravos, enquanto podiam contar apenas comigo para libertá-los?”

A manutenção da escravidão gerava temores, como a eclosão de uma guerra civil entre abolicionistas e escravocratas, como ocorrera nos Estados Unidos, ou uma repetição do ocorrido no Haiti, onde os negros expulsaram os brancos. A libertação sonhada pela princesa seria ordeira e pacífica, de modo a evitar o pesadelo das convulsões sociais. A liberdade deveria ser uma doação e uma bênção. Como “redentora dos cativos”, a princesa via-se agora cumprindo o papel de governante católica com o qual se identificava desde a infância.

Meses depois da Lei Áurea, em setembro de 1888, a princesa recebeu a Rosa de Ouro, uma condecoração oferecida apenas a chefes de Estado em reconhecimento por sua fidelidade à Santa Sé. Por carta, o papa Leão XIII não só lhe agradecia como interpretava a assinatura da Lei como sinal de dedicação de sua “Filha muito amada” às orientações da Sé Apostólica. Nos meios católicos, a celebração em torno da entrega da Rosa de Ouro revestia-se de simbolismos. Para uns, seria o início do Terceiro Reinado, uma espécie de coroação antecipada e chancelada pela Igreja. Outros viam no episódio um novo momento de fundação. Era a “segunda missa no Brasil”, diziam. Mas o fato é que Isabel, durante a solenidade, causou constrangimento nos meios políticos liberais ao jurar fidelidade ao papa, um soberano estrangeiro.

No exílio, após a queda da monarquia, Isabel foi procurada por Silveira Martins (1835-1901), senador do Império entre 1880 e 1889. O assunto era a restauração da monarquia. A ideia era que o ex-imperador e a filha abdicassem em favor do príncipe D. Pedro, o filho mais velho da princesa. O rapaz tinha então 15 anos.  O plano era levá-lo de volta ao Brasil, sem a presença dos demais membros da família imperial.  A chefia do Estado seria entregue a um governo regencial até que o garoto atingisse a maioridade. O ex-imperador aceitou tudo de pronto, mas a princesa foi contra. “Embora brasileira, sou, antes de tudo, católica; e com relação a meu filho ir para o Brasil, jamais o confiarei a este povo[os políticos], já que o meu dever é a salvação de sua alma.” Irritado e desiludido, o político respondeu-lhe prontamente:“Então, senhora, seu destino é o convento!”

A princesa não chegou a herdar o trono de seu pai. No exílio na França, onde permaneceu até sua morte, em 1921, Isabel dedicou-se ainda mais à caridade e a um contato mais próximo com o Vaticano. Durante a velhice, promoveu diversas campanhas de ações beneficentes dirigidas aos brasileiros, tudo com auxílio de amigos e, principalmente, por meio de suas sólidas articulações com o episcopado. Mesmo impedida de ocupar o trono, ela “reinava” a seu modo e à distância. Na França, cultivava em seu palácio um jardim de plantas brasileiras e ensinava a língua portuguesa aos netos. Em seus aposentos, guardava com devoção os objetos que considerava mais sagrados: abandeira imperial brasileira, a coroa do Império, a Rosa de Ouro e uma imagem do Sagrado Coração de Jesus, maior devoção entre os católicos romanizados.

 

Robert Daibert Júnioré professor da Universidade Federal de Juiz de Fora e autor do livro Isabel, a ‘Redentora dos escravos’: uma história da princesa entre olhares negros e brancos (Edusc, 2004).

 

 

Saiba Mais – Bibliografia

CARVALHO, José Murilo de. D. Pedro II: ser ou não ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

LACOMBE, Lourenço Luiz. Isabel: a Princesa redentora. Petrópolis: Instituto Histórico de Petrópolis, 1989.

PRIORE, Mary Del. O Príncipe Maldito: traição e loucura na Família Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.

VIEIRA, Hermes. Princesa Isabel: uma vida de luzes e sombras. São Paulo: GRD, 1989.

Saiba Mais – Internet

www.idisabel.org.br

Fonte

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A Missa no celeiro

26 Terça-feira Jun 2012

Posted by marcosmarinho33 in Da Doutrina, Da Liturgia, Da Santa Igreja

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“No vilarejo de Dardilly, a Revolução [Francesa] passou quase despercebida. Um sacerdote ‘juramentado’ substituíra o venerado cura da paróquia, que se retratara da sua vergonhosa promessa depois de ter prestado o juramento [houve uma lei que obrigava todos os sacerdotes a prestarem juramento à nova Constituição, que subordinava totalmente a Igreja da França ao Estado. Mais da metade do clero recusou-se a prestar esse juramento;com isso, abriu-se uma profunda divisão entre ‘juramentados’ e ‘não-juramentados’]. Mas os Vianney não suspeitavam de que o novo pároco fosse um herege, até que o seu linguajar, mais político do que edificante, acabou por abrir-lhes os olhos. Pouco a pouco os fiéis foram abandonando a velha igreja. Começava a perseguição.

“Os camponeses acobertavam os sacerdotes proscritos. Davam-lhes um esconderijo, um disfarce e um pouco de alimento. Reuniam-se secretamente aos domingos, durante a noite; o caminho, às vezes, era longo. Um celeiro servia de igreja; um cocho, de altar; Cuidavam de não rezar em voz alta. O sacerdote expunha-se ao cadafalso; os fiéis às galés. Valia a pena ser cristão naquele tempo.”

Trecho do livro “O Cura d’Ars”, de Henri Ghéon.

São João Maria Vianney, o cura de Ars, viveu durante a Revolução Francesa. No trecho que tirei do livro de Henri Ghéon, podemos ver até que ponto aqueles cristãos fervorosos se arriscavam para poderem assistir à Santa Missa. Havia a opção de assistir a Missa com um sermão herético, mas isso não era opção para eles. Tinham Deus como prioridade. Sabiam colocar as coisas em seu devido lugar, e conheciam o valor da Missa para arriscar tudo por ela. E olha que a liturgia ainda era a da Missa de Sempre.

Muitas coisas aconteceram desde então. Hoje, não só temos que tomar cuidado com as doutrinas de certos sacerdotes por aí, como também temos que observar todos os aspectos da liturgia, o “depósito da Fé.” Em compensação, se o trabalho é duplo, os fiéis estão duplamente enfraquecidos. Quantos católicos atualmente teriam a coragem daqueles do tempo de São João M. Vianney? Aqueles que arriscavam seu pescoço para assistir à Missa no celeiro? Acho que o comodismo fala mais alto, ao menos para a grande maioria. E aqueles indignavam-se tão somente pelas heresias que chegavam aos seus ouvidos; estes, no entanto, contentam-se em ver fazerem do Calvário de Cristo uma Ceia do Diabo, nas suas mais variadas formas.

Sem querer ter a audácia de comparar-me com São João Vianney e sua piedosa família, mas pelo contrário, agradecendo a Nosso Senhor por ter me concedido conhecer bem a Fé que recebi no Batismo e a Missa em sua forma “extraordinária”, percebo essa semelhança dos católicos “tradicionais” com os contemporâneos deste venerado santo; hoje, precisamos, em muitas dioceses, privar-nos do luxo de poder ir na sua igreja paroquial, tão perto da sua casa, mas como aquelas pessoas, procurar uma Missa dignamente celebrada num lugar remoto da região.

Que temos muitos sacerdotes que não tem respeito pela Santa Missa, disso sabemos. Mas creio que temos mais ainda sacerdotes que têm medo de desagradar à “nova geração moderninha” de fiéis que gostam de uma missa mais animada, sem falar daqueles (me atentei para isso ontem, lendo um artigo sobre os problemas da RCC) que procuram fazer uma evangelização mais preocupada com quantidade do que qualidade, que encha sua Igreja e anime seus paroquianos. Afinal, que padre não quer ver a igreja lotada? Mas vejamos isto por um outro ponto de vista.

Escrevi este texto para ilustrar um pouco a situação daqueles que se dispõem a seguir o exemplo do Cura d’Ars:

“Imagine uma biblioteca. Uma grande biblioteca, bem organizada, com anos de história, silenciosa, própria para um bom estudo. Mesmo assim, está quase sempre vazia. O grupo que a frequenta é muito pequeno; no entanto, faz ótimo uso do material que a biblioteca tem a oferecer. Estudam muito, esforçam-se para aprender o máximo que puderem.

“Porém, um certo dia, aparece um novo bibliotecário. Este impressiona-se por ver uma biblioteca tão boa sendo tão pouco aproveitada. Decide fazer algo a respeito.

“Começa a trazer para a biblioteca, de vez em quando, algumas novidades mais ‘modernas’, tudo que o público jovem gosta: coleções sertanejas, baile do livro, afro-literatura, manuais da língua dos anjos… Logo, atraiu um pouco mais de gente, o que quase compensou o aumento de reclamações por parte daqueles antigos estudantes frequentadores do local devido o barulho e a bagunça que os novos frequentadores faziam. Os bibliotecários respondiam que era necessário algum sacrifício para que conseguissem que mais pessoas conhecessem a Biblioteca e eventualmente começar a estudar.

“Passando o tempo, vendo que aquilo aparentemente funcionava, os bibliotecários passaram a organizar mais novidades na biblioteca, inclusive alguns eventos que chocaram a comunidade, para uma biblioteca tão tradicional.

“O número de frequentadores só aumentava, o de estudantes, nem tanto; mas, mesmo assim, seria um ‘sucesso a longo prazo’. Mas os antigos alunos não se sentiam bem ali. De fato, nem parecia o mesmo lugar. De biblioteca, só tinha o nome no letreiro. O barulho, a sujeira, os livros tratados com desleixo; tudo aquilo os deixava muito tristes.

“Aos poucos, esses antigos frequentadores migraram e organizaram-se em grupos de estudos em casas e outras bibliotecas mais organizadas, embora ficassem em áreas isoladas da cidade.

“O que aconteceu no final? Estes estudantes passaram no Vestibular. Os outros, esqueceram-se de estudar, com tanta festa que tinha. Chegaram no dia do Vestibular e não sabiam nada; foram desclassificados pelo Grande Professor.”

Qualquer semelhança com a realidade NÃO É mera coincidência.

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São João Fisher, São Thomas More e a seita do anglicanismo

20 Quarta-feira Jun 2012

Posted by marcosmarinho33 in História da Igreja

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anglicanismo, anglicanorum coetibus, ato de supremacia, bento xvi, cardeal newman, catarina de aragão, catolicismo, celtas, chefe da igreja, cisma, conversão, eduardo viii, heresia, heterodoxo, inglaterra, inquisição, la salette, matrimônio indissolúvel, mártir, papismo, rainha elisabeth, religião, romanos, são domingos sávio, são joão bosco, são joão fisher, são tomas more

São João Fisher era Cardeal e Arcebispo de Rochester, foi tutor do príncipe Henrique, reitor da Universidade de Cambridge, e esteve presente no Concílio Lateranense V. Ele opôs-se ao plano do Rei Henrique que tencionava se divorciar da Rainha Catarina, do qual era confessor, lembrando-o do caráter indissolúvel do Matrimônio.

São Thomas More, por sua vez, era um leigo, Chanceler do Reino Inglês. Depois que o Arcebispo de York, Thomas Wolsey, falhou em conseguir a anulação do casamento de Henrique VIII, ele foi forçado a demitir-se para dar lugar a S. Thomas More na chancelaria. Este era íntimo do rei, mas aparentemente este ainda não tinha se apercebido da retidão de caráter de More. [¹] Mostrou-se eficiente, imparcial e justo em seu cargo.

Estes dois homens de grande erudição e participação política e religiosa na Inglaterra foram firmes em opor-se às tentativas do Rei de divorciar-se da Rainha, colocando que isto era matéria da jurisdição do Papa. A Rainha apelou para o Papa, e este disse que não concederia a anulação do matrimônio.

John Fisher (painting).jpg

São João Fisher

Em 1534, finalmente, o Rei respondeu com uma reação que teria trágicas consequências: separando-se da Igreja Católica, criou a nova Igreja da Inglaterra (Anglicana), e atribuiu-se a si mesmo a liderança desta, como Chefe Supremo da Igreja, ao invés do Papa. Obrigou todos os sacerdotes a um juramento ao abrigo de seu Ato de Supremacia. Embora tivesse sido duramente contra as heresias de Lutero, chegando a queimar os livros deste publicamente. Mas a luxúria e a ambição de ter filhos homens falaram mais alto que a sua fidelidade a Igreja.

Sir Thomas More foi convocado para fazer o juramento no dia 17 de abril de 1534, e, dada a sua recusa, foi preso na Torre de Londres junto com o Cardeal João Fisher. Note-se que São João Fisher foi feito cardeal pelo Papa durante o tempo que estava na prisão. Depois de julgados, foram condenados à pena capital por traição e desobediência. Desobedientes ao rei mas obedientes e fiéis a Deus, morreram como mártires, mortes que eram apenas o começo de muitas outras que aconteceriam na Inglaterra por causa da luta dos monarcas em estabelecer ali sua nova heresia do anglicanismo.

Henrique VIII, provavelmente, nunca mais foi feliz. Nem poderia. No total, casou-se 6 vezes, um fracasso após o outro. Henrique herdou uma grande fortuna, mas não foi cuidadoso com seu dinheiro. Depois de diversas manobras para obter dinheiro, incluindo tomar posse de terras monásticas e desvalorizar a moeda, ainda assim morreu endividado. Nos últimos anos de sua vida, tornou-se grosseiramente obeso, mal podendo se locomover. Tinha muitas dores, suportando furúnculos e possivelmente sofria de gota. Sua obesidade foi consequência de um ferimento na perna, que depois tornou-se uma úlcera. Ele morreu após alegadamente proferir as palavras: “Monges! Monges! Monges!”

Henrique VIII em 1542

Há quem diga que a “emancipação” da Igreja feita por Henrique VIII ainda não a havia tornado verdadeiramente protestante, já que continuou “católica quanto à doutrina”. Disso terei que discordar, pois colocar o Rei no lugar do Papa é erro grave. Mas ainda assim, continuaram semelhante nos artigos de fé, até que veio a Rainha Elisabeth I (que os filmes idolatram, mas que não foi nada clemente com os católicos), e aí sim a Igreja Anglicana tornou-se um híbrido de catolicismo com protestantismo, característica que mantém até hoje. Como diz meu pároco, Pe. Ulysses, “a casca é católica, mas o interior é protestante.” Daí uma dificuldade em discernir a primeira vista uma Igreja Anglicana, mas é algo que não demora muito.

Como não poderia deixar de ser, ao exemplo das suas irmãs protestantes, a Comunhão Anglicana, na segunda metade do séc. XX, viu surgirem várias denominações independentes, devido a divergências teológicas ou pastorais. Atualmente, está passando por uma grande crise interna, em que o sentido de unidade, de comunhão está sendo questionado, por fatos que ocorreram no século XX: a ordenação feminina, e no XXI, a sagração de um bispo homossexual assumido, pela Igreja dos Estados Unidos, e a bênção matrimonial de casais do mesmo sexo, por uma diocese canadense. Sem falar que o celibato já ficou pra trás há muito tempo. É uma grave crise que opõe liberais e conservadores que os assola. Afinal, o que se poderia esperar de uma Igreja que não segue a uma Tradição firme e imutável de dois mil anos, mas aos gostos e caprichos de um Rei e um Livro de Orações de alguns séculos atrás, a uma seleta de Credos? Que surgiu por motivações não religiosas, mas deveras políticas?

Abadia de Westminster, antiga igreja católica tomada pelos anglicanos. É onde se realizam as coroações reais.

Quando Maximin, vidente de La Sallete, redigiu o Segredo que lhe confiou Nossa Senhora em 1851, escreveu: “um grande país no norte da Europa, hoje protestante, se converterá. Pelo apoio deste nação, todos os outros países se converterão”. Maximin registrou que este país seria a Inglaterra. Em 2009, o Papa Bento XVI publicou a Constituição Apostólica Anglicanorum coetibus, sobre a instituição de ordinariados pessoais para os anglicanos que convertem-se de volta para a Igreja Católica, se aprestando a receber grandes blocos de anglicanos. As conversões tem acontecido em grande escala. De acordo com o influente diário de Londres “The Times”, no fim do processo a igreja anglicana poderia ficar reduzida a uma insignificância residual.

Daí se entende por que a visita do Papa a Inglaterra em 2010 foi histórica: pela primeira vez em 476 anos, um Papa foi convidado pela monarquia britânica para uma viagem de Estado. Na ocasião excepcional, o Papa foi quem presidiu a cerimônia de beatificação do Cardeal Newman, que converteu-se do anglicanismo para o catolicismo e dizia: “Liberdade de consciência não equivale a ter direito a prescindir da consciência, a ignorar o legislador e juiz, a ser independente de obrigações invisíveis”. A visita não deixou de causar um mal-estar entre os anglicanos, talvez pelos fortes significados que trazia a ocasião.

Cardeal Newman

Por isso, que todos rezemos fervorosamente, pedindo que pela intercessão de São João Fisher e São Thomas More e confiantes em Nossa Senhora de La Salette, a Inglaterra possa retornar a Fé Católica, como foi revelado por Deus a São Domingos Sávio:

“Certa manhã, durante minha ação de graças após a comunhão, voltei a ter uma distração (êxtase), que me pareceu estranha; eu julguei ver uma grande parte de um país envolvida em grossas brumas, e estava cheia com uma multidão de pessoas. Estavam se movendo, mas como homens que, tendo perdido seu caminho, não estavam certos onde pisavam. Alguém próximo disse: ‘Esta é a Inglaterra.’ Eu estava para fazer algumas perguntas a respeito disso quando vi Sua Santidade Pio IX, representado da mesma maneira que vi nas figuras. Ele estava majestosamente vestido, e carregava uma tocha brilhante com a qual ele se aproximou da multidão, como que para iluminar sua escuridão. À medida que se aproximava, a luz da tocha parecia dispersar a névoa, e as pessoas foram trazidas à plena luz do dia. “Esta tocha,” disse meu informante, “é a religião Católica que está para iluminar a Inglaterra”.

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“Precisamos de Santos COM véu e batina” II

28 Segunda-feira Maio 2012

Posted by marcosmarinho33 in Dos Santos e Santas

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batina, beato, calça jeans, canonização, castidade, consagrado, intercessão, jejum, liturgia, maria, penitência, pureza, religião, santa missa, santidade, santos, tradição, véu

São Domingos Sávio

Precisamos de Santos com véu e batina.
Precisamos de Santos que se preservem no jeito de vestir.
Precisamos de Santos que saibam o verdadeiro significado da Santa Missa.
Precisamos de Santos que coloquem Deus em primeiro lugar e se dediquem ao serviço na Igreja.
Precisamos de Santos que vivam na pureza e na castidade.
Precisamos de Santos que amem a Sagrada Tradição e preservem a Liturgia.
Precisamos de Santos que se preocupem mais com a salvação das almas do que as com as reformas sociais.
Precisamos de Santos que vivam no mundo mais que visivelmente e espiritualmente não seja parte dele.
Precisamos de Santos que façam jejuns e penitências.
Precisamos de Santos que se consagrem totalmente a Virgem Maria e rezem pelos sacerdotes.
Precisamos de Santos que não tenham medo de renuncias e sacrifícios por Cristo Nosso Senhor.
Precisamos de Santos que amem o Santo Padre e o obedeçam.
Precisamos de Santos que estejam no mundo, mas não sejam parte do mundo, que apesar de desejarem serem felizes nesta vida nunca esquecem a felicidade plena é só no Reino dos Céus aos pés de Nosso Senhor.
Por Ninaah Viana

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Os Erros do Espiritismo e da Reencarnação

21 Segunda-feira Maio 2012

Posted by marcosmarinho33 in Da Doutrina

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alma, candomblé, católica, dúvidas, erros, espiritismo, espirito, fé, heresia, igreja, kardecista, psique, reencarnação, religião, sincretismo, umbanda

Recentemente, tenho visto uma onda de católicos (tanto os ‘não-praticantes’ quanto os de verdade) afiliarem-se ou mostrarem grande interesse e simpatia pelo Espiritismo. Com suas palavras e crenças açucaradas, para disfarçar seus erros, o Espiritismo oferece a todos a chance de viver uma vida de moleza com a consciência limpa de estar a caminho dos Céus. Como eu tenho muito trabalho em conseguir responder aos erros dos espíritas, e creio que muitos estão na mesma situação, peguei esse artigo no site Veritatis Splendor para me ‘preparar’ melhor. 🙂

—————————————————-

Psique e alma

Na psicologia moderna e no uso comum, entende-se por psique o conjunto das funções sensitivas, afetivas e mentais graças às quais o indivíduo tem experiência de si mesmo e da realidade externa. Este conjunto de funções se traduzem em representações de eventos, de fatos, de coisas e em necessidades, desejos, atos volitivos e intelectivos. O filósofo católico Jean Daujat evidenciou como foi a concepção cartesiana de alma (herdeira dos erros platônicos) criando uma grande confusão entre a religião e as ciências psicológicas porque considerou o corpo e a alma como duas substâncias entre si ligadas e não como dois princípios constitutivos de uma única substância.

Para Descartes, o homem é constituído por duas substâncias, um corpo material e um espírito puro: a alma habita no corpo, mas é independente e separada do corpo, uma espécie de piloto que guia a máquina – corpo. Esta concepção levou Descartes a dividir o estudo do ser humano em duas ciências: a fisiologia que estuda o corpo e a psicologia que estuda a alma.

Corpo e alma, na verdade, não são duas substâncias que se somam, mas os princípios constitutivos de uma única substância. Por isso, a psique não é o reino no qual age um espírito puro independente do corpo, mas é preciso considerar a existência da parte vegetal e animal da psique da qual se originam sensações e fantasias que fogem ao controle direto da vontade e da consciência e se situam abaixo da consciência (subconsciente). No subconsciente se situam, por exemplo, as imagens sensíveis que se encontram em nós sem que mantenhamos uma memória consciente: automatismos do instinto, automatismos adquiridos com o hábito, sentimentos (atrações, repulsões, agressividade, afetividade) que nos movem e nos influenciam e sobre os quais devemos, com esforço, dirigir a atenção da vontade e da inteligência para podermos tornar-nos conscientes e para poder guiá-los em direção ao que é bom objetivamente. A psique, então, não compreende apenas a parte da consciência e da vontade, mas também a parte do inconsciente – obviamente, entendido em sentido etimológico e não no sentido freudiano – na qual se move tudo o que há em nós de vegetal (vida orgânica) e de animal (funções da sensibilidade): isso constitui propriamente o subconsciente e é o lugar de onde se originam todos aqueles impulsos do comportamento situados abaixo da consciência.

No inconsciente se move também aquilo que há em nós de mais espiritual e do qual origina a manifestação da consciência e da vontade: a natureza imaterial da nossa própria alma e que constitui o supraconsciente.

Assim, há na alma uma estrutura e uma hierarquia extremamente complexa assim como a própria realidade humana, e nesta realidade profunda e misteriosa do ser humano tudo é ligado.

Da concepção cartesiana da alma como espírito puro independente do corpo e que constitui a psique, nasceu uma espécie de rivalidade entre a religião e as terapias psicológicas que, ao contrário, são autônomas e distintas nas suas respectivas esferas de ação. (1)

A distinção entre as realidades espirituais e as físicas, que se manifestam nas funções da psique, não deve, todavia, chegar ao limite da separação e, portanto, é desejável que se chegue a uma colaboração entre psicologia e religião com o objetivo de contribuir para melhorar a saúde da pessoa vista na sua totalidade física e espiritual.

A religião e, portanto, os sacerdotes, os moralistas e os teólogos devem ter em conta o fato de que muitas pessoas sofrem dificuldades no caminho do espírito por uma diminuição da liberdade determinada por mecanismos psicológicos errados e não de todo o consciente.

A psicoterapia deve ter em conta o fato de que nas zonas mais profundas da psique humana existe a memória e a necessidade do sagrado, e que o amor de Deus e a esperança da vida eterna representam a principal e mais potente motivação capaz de iluminar e encorajar o ser humano nas dificuldades da vida, capaz de suscitar e manter nele a vontade de curar, mesmo frente às dificuldades mais graves que superam as forças humanas.

São Tomás de Aquino, recorda Daujat, não caiu no erro de Descartes e, de acordo com Aristóteles, situou a ciência psicológica no campo da física de modo a não confundi-la com a metafísica. Mas o que é exatamente a alma e onde está localizada?

Platão localizava a alma no ponto de conjunção da medula espinhal com o cerebelo; Descartes na glândula pineal; J.C. Eccles – prêmio Nobel para a neurobiologia – nos módulos piramidais do córtex sensitivo-motor.

No entanto, para São Tomás de Aquino e para a doutrina da Igreja Católica – Concílio de Viena – a alma é o princípio vital do qual tem origem cada ação corpórea, a do aparelho locomotor como a da psique. A alma não está em um lugar particular do corpo porque é o arquiteto interior que dá forma à matéria informe, que estrutura a matéria de tal modo a fazê-la um ser vivo, é o princípio vital que unifica, organiza e harmoniza mesmo a menor parte do corpo penetrando na raiz e totalmente: pode-se dizer, com São Tomás de Aquino, que não é o corpo que contém a alma, mas é a alma que contém o corpo e o contém até quando continuem a permanecer em vida aqueles elementos corpóreos indispensáveis a assegurar a manutenção da unidade funcional do organismo.

Atualmente, a ciência médica considera que o organismo não esteja morto até quando reste o tronco cerebral em funcionamento, cuja vida assegura a manutenção da unidade funcional dos órgãos, embora numa condição de tipo vegetativo persistente. (2)

A existência da alma espiritual

Escreve São Pio X no seu Catecismo Maior: “a alma é a parte mais nobre do homem, porque é substância espiritual, dotada de intelecto e de vontade, capaz de conhecer a Deus e de possuí-lo eternamente. […] a nossa alma não se pode nem ver nem tocar porque é espírito. […] a alma humana não morre nunca: a fé e a própria razão provam que ela é imortal”. (3)

Sobre o termo alma, que deriva de ánemos (sopro, vento), se entende o princípio primeiro da atividade de todos os seres viventes.

No homem, a natureza da alma é imaterial, mesmo que ela informe o corpo e constitua com ele uma única substância: o modo de agir manifesta o modo de ser e algumas operações intelectivas e volitivas do ser humano, enquanto procedendo do corpo, transcendem o mundo material demonstrando que não podem ter o corpo como único sujeito.

A existência da alma espiritual é demonstrável por via lógico-dedutiva: ela se deduz da existência de três atividades humanas que transcendem o corpo e a própria matéria. Estas atividades são o conhecimento intelectivo (para não confundir com o simples conhecimento sensitivo), a autoconsciência ou consciência refletida ou reflexão, o desejo da felicidade absoluta e, portanto, da eternidade.

Conhecer no sentido intelectual não consiste no simples pegar, tocar, sentir ou ver as coisas com os sentidos e com o cérebro que é o centro de integração dos sentidos: o cérebro, de fato, é dotado de imaginação reprodutiva (capacidade de reproduzir o objeto visto), imaginação associativa (capacidade de associar as imagens dos objetos vistos) e memória (capacidade de conservar as imagens). Os sentidos têm a tarefa de registrar as coisas como se apresentam, mas somente a inteligência tem necessidade de colocar a pergunta “O que é isso?”.

Esta pergunta é o sinal de que, para o homem, nos dados provenientes dos sentidos resta um objeto a conhecer que os sentidos não podem capturar. Qual é, então, este objeto? Este objeto é a essência de uma coisa, aquilo pela qual uma coisa é o que é: o por quê existe e por que existe deste modo.

Por exemplo, enquanto com o olho vejo muitas plantas particulares, diferentes umas das outras, com o intelecto sou capaz de fazer abstração das diferenças das plantas particulares e de formar o conceito de planta que posso aplicar a todas as plantas, da salada ao pinheiro: primeiro processo abstrativo que capta a unidade extraindo-a da diversidade. O animal vê uma planta particular, mas é incapaz de conceber a característica unitária que junta todas as plantas. Em virtude desta capacidade abstrativa, o homem pode dizer: a planta pertence ao reino vegetal e não ao animal, como o cachorro, nem ao mineral, como o ferro. Ou seja, pode formular juízos que se aplicam a todas as plantas, a todos os animais, a todos os minerais. Para nós, seres humanos, esta operação de abstração intelectual é tão natural que não nos damos conta da existência desta capacidade pelos simples fato de que continuamente a colocamos em funcionamento de um modo todo natural, assim como colocamos para funcionar os nossos cinco sentidos. Esta capacidade abstrativa é mais evidente nos conceitos quantitativos de ordem físico-matemática, isto é, naqueles conceitos onde definimos a mensurabilidade das coisas pela sua grandeza. O comprimento, por exemplo, é uma palavra que serve para indicar uma propriedade comum das coisas (os objetos são mais ou menos longos), mas também para expressar a ideia ou modelo do comprimento que tem a propriedade do comprimento no grau máximo, isto é, infinitamente comprido. Esta medida máxima é uma ideia ou modelo que os sentidos não podem conhecer porque nenhum objeto que nós vemos ou tocamos tem totalmente esta propriedade, mas a recebe somente em parte de algo que transcende as próprias coisas: segundo processo abstrativo que consegue capturar a essência de um objeto sem o objeto particular, isto é, que consegue capturar a ideia diretriz, o projeto do qual teve origem a propriedade de uma coisa.

O nosso intelecto, assim, não somente conhece uma propriedade comum das coisas, pelas quais afirmamos que os objetos são mais ou menos longos – primeiro processo abstrativo que capta a unidade extraindo-a da diversidade – mas consegue também extrair desta propriedade unitária a sua medida máxima.

Depois do conhecimento sensitivo, então, o intelecto é capaz de obter um conhecimento ulterior e consegue ver, por exemplo, não somente que as coisas são mais ou menos belas, mas também conceber a ideia da beleza absoluta; consegue ver não somente que as coisas são mais ou menos compridas, mas também conceber a ideia do infinitamente comprido.

Quando definimos as coisas, a definição apresenta as coisas na sua essência e esta essência vem extraída fora da matéria, liberada da matéria (sem tempo, sem espaço), erradicada do seu contexto material, particular, limitado, finito. Por exemplo, quando digo que o homem é um animal racional, a definição do homem – animal racional – não implica, em si, nem dimensões, nem cores, nem idade, nem língua, ou seja, nada do que caracteriza os indivíduos singulares e que, portanto, não é comum a todos os homens.

Quando definimos as coisas, a nossa inteligência prescinde totalmente da matéria sensível. A definição apresenta as coisas na sua essência e abstrai de tudo aquilo que é sensível e material. Isso prova que a alma humana tira as essências do mundo da natureza e as “destemporaliza” e as “desespacializa”. (4)

Consideremos agora a autoconsciência ou o conhecimento refletido ou a reflexão: nós, seres humanos, não somente entendemos, mas entendemos que entendemos; junto ao scire, há o cum scire, isto é, junto à ciência existe a autoconsciência.

Uma faculdade puramente corpórea é estendida e conhece apenas de modo estendido, como uma parte pode retirar-se sobre outro, mas não o tudo sobre o tudo: o olho, sozinho, sem um espelho não pode ver a si próprio e o dente não pode morder a si mesmo. Ao contrário, a inteligência é consciente de si mesma, se retira completamente sobre si própria de modo a ser junto força cognitiva e objeto conhecido: o intelecto, para poder conhecer a si mesmo, deve se colocar de um ponto de vista diferente daquele do objeto de modo a poder observar-se como um objeto. De acordo com o princípio da não contradição (o qual diz que nenhuma coisa pode ser e não ser ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto), o intelecto, na operação da reflexão, pode ser ao mesmo tempo sujeito conhecedor e objeto conhecido, mas não pode sê-lo sob o mesmo aspecto: isto é, pode ser sujeito conhecedor e objeto conhecido, mas de pontos de consideração diferentes; sujeito conhecedor em algumas operações e objeto conhecido em outras.

A análise da vontade é análoga: também na vontade se verifica uma reflexão sobre si mesma, uma autovolição.

Como o intelecto conhece o seu conhecimento, assim a vontade pode querer a sua volição a qualquer custo: por exemplo, posso deixar de ler esse escrito apenas para querer demonstrar que o quero. (5)

Enfim, consideremos o desejo tipicamente humano da felicidade absoluta e, portanto, da eternidade. O ser humano deseja que os seus momentos de felicidade sejam tais para satisfazê-lo perfeitamente e tais, portanto, para não acabarem nunca. O desejo de felicidade absoluta comporta o desejo da imortalidade porque a felicidade absoluta não seria tal se tivesse que terminar com a morte. O desejo de imortalidade introduz  o conceito de um tempo diferente do atual onde a felicidade não tem fim e que chamamos eternidade. São Tomás de Aquino explica que se pode desejar algo – mesmo de novo – mas somente a partir de algo que já se conhece.

Por exemplo, posso desejar caminhar no ar porque conheço a possibilidade de caminhar em terra e conheço a existência do céu; posso desejar a existência de formas de vida no universo porque conheço duas coisas: a vida e o universo.

Posso desejar uma felicidade absoluta, isto é, livre de vínculos e de limitações e tal, portanto, para não terminar nunca porque existe já em mim algo que tende à perfeição e à eternidade. Todo sujeito dotado de conhecimento deseja continuar no ser no modo com o qual conhece o ser: aquele que conhece o ser de um momento deseja somente esta existência momentânea, aquele que conhece o ser perpétuo deseja ser sempre, e enquanto nenhum desejo natural pode ser vão, este sujeito conhecedor deve ser sempre.

O próprio suicídio não é uma negação do desejo de felicidade perfeita e, portanto, imortalidade.

Na maior parte dos casos, o suicídio não é um ato de amor pela morte em si própria, mas uma fuga à dor.

Em alguns casos raros, o suicídio é o fruto da soberba, isto é, da desordenada estima de si mesmo. O soberbo pode chegar a refutar a sua dependência ao Criador até o ponto de querer ser dono do momento de sua morte. O filósofo ateu Friedrich Wilhelm Nietzsche, em Assim Falou Zaratustra, chega a exaltar “a livre morte, que vem a mim, porque eu quero.”  Zaratustra não deseja a morte por si mesma, mas procura rebelar-se à sua condição de ser – mortal – dando-se a morte. (6)

A conexão entre a alma espiritual e o corpo

O homem é uma substância feita de alma e corpo; alma e corpo não são duas substâncias ligadas entre si, mas são a forma e a matéria da mesma substância homem.

Matéria e forma, em metafísica, são dois princípios constitutivos de uma mesma substância e não duas substâncias que se somam. Um pedaço de madeira, por exemplo, pode se tornar uma estátua ou uma cadeira, uma mesa. A madeira é a “matéria” que pode ter a “forma” da estátua ou da cadeira ou da mesa: a forma em metafísica não é o perfil externo de uma coisa, mas o princípio do ser de uma coisa, o ato que lhe confere uma determinada propriedade, que a faz ser aquilo que antes não era, que a organiza em um certo modo. A matéria, entretanto, é aquilo que vem organizado, aquilo que é capaz de receber um ato que lhe confira uma determinada propriedade. Depois que o material da madeira foi organizado em um certo modo, ele adquiriu uma forma: a forma de estátua ou de mesa ou de cadeira.

Dizer que a água é composta de oxigênio e de hidrogênio – isto é, de dois átomos que se unem – não é a mesma coisa que afirmar que a estátua é composta do material e da forma de estátua, porque a matéria e a forma da estátua não são duas substâncias que se somam, mas são dois princípios constitutivos de uma mesma substância.

A alma não está em um lugar particular do corpo, mas é forma corporis – a forma do corpo em sentido metafísico – isto é, o primeiro princípio que anima – põe em movimento – um ser de dentro, sem uma intervenção externa a ele, tornando-o um ser vivente. Se se observa um ser vivente em via de formação, tem-se que possui em si mesmo o princípio interior do seu desenvolvimento. Tal princípio interno apresenta, sobretudo, três características:

  1. Põe em movimento a matéria de dentro;
  2. Este trabalho de movimento e de desenvolvimento harmonicamente finalizado revela a presença de um projeto intrínseco ao vivente ou ideia – guia;
  3. Como os diversos órgãos e as diversas partes do corpo são unificadas em um todo perfeitamente organizado, tal característica se chama forma: com este termo se quer indicar não tanto a figura externa, mas o princípio intrínseco de determinação e de unificação. (7)

Por unidade substancial do ser humano, então, deve-se entender aquela situação na qual a alma não está em um lugar particular do corpo, mas é o princípio vital que informa toda a matéria do corpo.

A filosofia que nega a unidade substancial do ser humano (condenada pela Igreja Católica no Concílio de Viena, onde se afirma que a alma é forma corporis) é errada, porque termina, mesmo sem querê-lo, por negar aquilo que afirma, isto é, a existência da alma.

De fato, se a alma e o corpo fossem duas substâncias, cada uma tendo um ser próprio distinto do ser da outra substância, a alma seria como uma espécie de guia e o corpo (cérebro incluso) seria a máquina a se guiar.

Desta maneira, não se entende como o guiador, uma vez que tenha decidido – e se trataria de uma decisão espiritual tomada pela alma – levar a máquina a uma certa direção (por exemplo, de afrontar um perigo), se puxe atrás e não consiga fazê-lo.

Se o guiador (que seria a alma) não consegue guiar a máquina do corpo, uma vez que tenha decidido, isso significaria – e é a consideração do filósofo Baruc Spinoza – que a alma não existe por si mesma, mas seria apenas um atributo do corpo.

A concepção dualista – isto é, a concepção segundo a qual o corpo e a alma são duas substâncias ligadas entre si – termina por negar a existência da própria alma, isto é, o fato de que a alma possa existir por si mesma. (8)

Para as substâncias puramente corpóreas, não pode existir a forma sem a matéria: por exemplo, a estátua não pode existir sem o material que vem organizado em estátua.

Na substância homem, entretanto, por via das operações espirituais do intelecto e da vontade, a alma deve subsistir por si mesma de maneira espiritual, ainda que sem a matéria que informa: subsistir significa existir por si e não em virtude de um outro ser.

Enquanto em todas as substâncias corpóreas quem tem o ser é o composto de forma e de matéria, no homem quem tem o ser é a alma a qual comunica ao composto assim que a substância homem existe em virtude do ser da alma. Para o homem, cujas operações intelectuais e volitivas demonstram a existência de um elemento não corpóreo – que, portanto, tem uma subsistência espiritual – tal elemento, que chamamos alma, deve continuar a subsistir necessariamente, mesmo se vem privada do corpo que é a sua construção, o seu modo de ser.

A natureza espiritual da alma exige que a sua origem seja devida a uma intervenção direta de Deus. De fato, a alma não pode ser produzida por substância material pré-existente sendo-lhe superior; nem pode ser produzida pela substância espiritual pré-existente dos pais. De fato, este tipo de geração exigiria que o espírito dos pais comunicasse uma parte de si, mas isto não é possível, porque o espírito não é divisível como a matéria. A alma por isso é criada diretamente por Deus no mesmo momento no qual acontece a fecundação humana.

A ação imediata de Deus não é uma ação especial de tipo milagroso porque faz parte da ordem e do plano natural do universo criado. (9)

Esta unidade substancial do ser humano – situação em que a alma não está em um determinado local do corpo, mas é o princípio fundamental que informa a matéria do corpo – explica bem as relações que intervêm entre a realidade material e a espiritual.

Com a unidade substancial do ser humano entendem-se os motivos pelos quais o homem não consegue sempre fazer o que quer – e se trataria de uma decisão espiritual do eu dotado de consciência e vontade. Os motivos são dois: os defeitos corporais e as desordens da alma.

Defeitos do corpo: o homem em estado de coma não pode agir, o intelecto de uma criança deve aguardar o desenvolvimento do cérebro para se manifestar. Após a morte, o eu espiritual subsiste necessariamente, mas de um modo que não podemos ter alguma ideia ou experiência. Trata-se de um estado violento não natural a ele enquanto separado do seu modo de ser (o corpo) e por isso não pode agir no mundo dos corpos, porque o seu corpo é o seu meio ordinário de ação: a sua possibilidade de ação pode depender apenas da livre iniciativa de Deus.

Desordens da alma: a rebelião contra Deus produziu a rebelião das potências inferiores da alma (paixões) contra as superiores (razão e vontade) pelas quais o próprio homem não faz o bem que quer, mas o mal que não gostaria.

Escreve Santo Agostinho: “a alma manda que a mão se mova, e a coisa acontece assim imediatamente que mal se distingue o comando da execução: e a alma é espírito e a mão é matéria. A alma depois manda a si mesma querer: se trata da mesma alma, e ainda não obedece. Como isso? Por quê? A alma, digo, ordena querer: não ordenaria se não quisesse, e, no entanto, não executa aquilo que ela mesma ordena. (…)

Não é (…) incrível que aconteça de querer e de não querer ao mesmo tempo, porque é uma fraqueza da alma (…).” (10)

O pecado de Adão e Eva feriu a natureza humana pela qual o projeto interior – a ideia-guia, isto é, a alma criada por Deus – não pode realizar-se de maneira completa e ordenada com a natureza contaminada que se encontra à disposição. O pecado dos progenitores feriu a matéria vivente para transmitir aos filhos. Depois do pecado original, a alma de cada ser humano realiza um trabalho de movimento, de desenvolvimento e de formação sobre uma matéria vivente que foi feita privada dos benefícios particulares dos quais Deus a havia dotado para poder responder às exigências da própria alma: de fato, tal matéria tornou-se corruptível e carrega consigo a marca de um conflito evidente entre os vários componentes psíquicos. Um conflito que faz o apóstolo Paulo dizer que a carne tem desejos contrários ao espírito.

Depois do pecado original, o eu espiritual criado por Deus, dotado de consciência e vontade, animando uma matéria vivente contaminada, submete-se a uma situação de desordem, não em sua essência, mas em suas operações.

O espiritismo e a reencarnação

O espiritismo e a reencarnação pressupõem uma concepção dualística platônico-cartesiana de alma e corpo que nega a unidade substancial do ser humano e leva, como vimos, à posição errada do materialismo.

Somente a oração a Deus é o meio ordinário para poder se comunicar com a alma separada violentamente do seu corpo. A alma privada de seu corpo não pode agir no mundo dos corpos, salvo por iniciativa de Deus: as técnicas do espiritismo são uma evidente forçação do mundo do espírito porque pretendem obter com esforços humanos somente aquilo que Deus pode conceder e, portanto, são negativas do ponto de vista do equilíbrio psicológico e espiritual e, por último, existe a suspeita razoável de que eles não estejam imunes à intervenção diabólica.

Escreve Carlos Aldunate no seu livro – O cristão frente ao paranormal – “Provocar esses fenômenos significa entrar voluntariamente no estado particular de receptividade que se chama TRANSE. Nele, o médium deixa de lado o seu espírito crítico e se faz transportar da sua própria sensibilidade. Por isso, o transe é um estado degradado do homem. (…) O médium em transe suspende as próprias capacidades superiores, por estar permeável às forças do inconsciente inferior (…).

Essas forças são desconhecidas: podem vir do inconsciente do médium, do inconsciente do cliente ou do inconsciente coletivo. Podem vir também de um espírito desconhecido, porque não há nunca plena segurança que venham do espírito invocado. Podem, enfim, vir de um demônio.

Certamente, não podem vir de Deus, porque Deus não pode ser captado e obrigado a responder às nossas perguntas.

Cria-se facilmente uma dependência dos espíritos; dependência que pode resultar bastante funesta.

Conhecemos vários casos nos quais a invocação dos espíritos provocou obsessões com vozes, sensações corporais, impulsos ao suicídio etc. (…) Se uma atividade é essencialmente insalubre para o homem, é sinal de que ela não é conforme à sua natureza, não entra na intenção do Criador. Aquela atividade é simplesmente contra a ética; não se deve realizar.

Os perigos das práticas espíritas, os efeitos perniciosos que frequentemente produzem, nos advertem que eles não devem ser realizados. O transe sempre comporta uma diminuição da clareza intelectual, do espírito crítico e da liberdade humana; portanto, deriva sempre uma diminuição da responsabilidade, que é a característica própria do homem adulto e maturo.

O homem em transe é como um homem mais ou menos drogado, um homem diminuído. Este transe se verifica no médium e também na pessoa que o consulta e que entra na sugestão desencadeada pelo médium. (11)

A doutrina da reencarnação é, na sua realização prática, como uma roda que parte de um ponto para retornar ao lugar de partida. A diversidade dos seres é momentânea, presente apenas nas existências intermediárias que se manifestam entre a partida e a chegada: minerais, depois plantas, depois animais, depois homens entre eles desiguais e enfim a igualdade e isto é um espírito perfeito, idêntico. Segundo tal doutrina, os homens seriam mais ou menos avançados dependendo se estiverem mais ou menos próximos do ponto de chegada, que é similar ao pleroma gnóstico: o pleroma gnóstico é uma espécie de magma originário e indistinto e o gnóstico Basílides o chama abertamente de nada.

Na doutrina da reencarnação:

  1. Os homens não têm um ser próprio, uma identidade pessoal própria: de fato, eles não têm conhecimento das próprias existências anteriores, não podem traçar a própria continuidade e a própria unidade. Esta amnésia das existências precedentes está em contradição mesmo com a teoria da reencarnação, a qual pressupõe a existência de um espírito independente do corpo, isto é, de um espírito que está no corpo como uma substância de natureza completa e que, portanto, guia o corpo como o piloto guia a nave. De fato, se o espírito é uma substância em si mesma completa, no desencarnar deveria levar embora consigo as lembranças e, sem perder a posse delas, deveria entrar no novo corpo do mesmo modo como o piloto não perde as próprias lembranças no passar de uma nave a outra.
  2. A ignorância das existências anteriores torna inútil a reencarnação. De fato, considerando a ignorância das existências precedentes, não se vê de que modo a reencarnação possa servir a favorecer o progresso individual. Para os reencarnacionistas, a doutrina da reencarnação serviria para fazer progredir os indivíduos através das vidas sucessivas correspondentes ao seu estado de avanço espiritual: esta seria a chamada lei do Carma. Para que o avanço do espírito possa ter lugar, ele deveria ser perfeitamente consciente da experiência adquirida em cada uma das existências precedentes, mas como se pode realizar um tal progresso se o espírito perde a lembrança das existências precedentes?
  3. Os homens não têm mais uma verdadeira família: de fato, para a doutrina da reencarnação, os filhos já existiam antes que os genitores lhes concedessem um corpo no qual se encarnar. Antes de serem nossos – segundo tal doutrina – os filhos foram de outros genitores, que foram provavelmente também de outra família, de outra nação, de outra pátria, de outra raça. Os próprios genitores poderão se reencarnar em um corpo concedido a eles pelos filhos.
  4. Os homens não teriam mais uma verdadeira identidade sexual: de fato, a reencarnação pode acontecer num corpo sexualmente diferente do precedente.
  5. E não haveria verdadeira diferença entre o homem e o animal: porque podemos ter sido animais e podemos sê-los no futuro. (12)

Admitida a doutrina da reencarnação, se torna fácil, de um ponto de vista filosófico, justificar comportamentos desviados como o incesto, a homossexualidade, a zoofilia. Além do mais, deste núcleo filosófico reencarnacionista, é inevitável que tenham origem doutrinas contrárias à família e às justas e naturais desigualdades entre os homens.

Da doutrina da reencarnação deriva também uma concepção panteísta: o homem se salva por si através das sucessivas reencarnações e Deus termina por identificar-se com a soma de todas as coisas. Mas se não existe mais um Deus pessoal e transcendente, a natureza não é mais a obra do Criador, não é mais o fruto do logos, o resultado de um projeto racional e, portanto, não existiram mais nem verdade, nem leis, nem direitos absolutos, sagrados, invioláveis. A natureza se tornaria apenas uma espécie de material nascido do acaso, fruto de simples e momentâneas conexões de força, um material sobre o qual o mais forte tem o direito de exercer a sua força: ficaria um só direito e também um só dever, o da força.

Na realidade, o verdadeiro e autêntico domínio do homem sobre a natureza pode atuar somente através do conhecimento e o respeito das leis naturais.

A natureza não pode ser dominada atropelando-se as leis: a natureza se deixa dominar somente conhecendo-se as leis e as aplicando.

“O domínio concedido pelo Criador ao homem não é um poder absoluto, nem se pode falar de liberdade de ‘usar e abusar’, ou de dispor das coisas como melhor agrade.

A limitação imposta pelo mesmo Criador desde o princípio, e expressa simbolicamente com a proibição de ‘comer o fruto da árvore’ (cf. Gn 2,16), mostra com suficiente clareza que, no que diz respeito à natureza visível, estamos submetidos a leis não somente biológicas, mas também morais, que não se podem impunemente transgredir.” (13)

Algumas objeções científicas à reencarnação

A regressão hipnótica seria, para os reencarnacionistas, prova da reencarnação.

Na realidade, no subconsciente acontece uma reelaboração caótica de todos os dados recebidos durante a existência e é possível que haja uma identificação com dados, histórias e acontecimentos depositados e reelaborados no inconsciente, identificação induzida pelo hipnotizador: o influxo do hipnotizador é evidente no fato de que, se sugere ao sujeito um retorno à infância, este age e fala como um menino; se lhe sugere ter sido um animal, este fala e age como um animal; se lhe sugere voltar a uma outra vida, começa a elaborar a história de uma outra vida. Além disso, as histórias dos sujeitos em estado de hipnose são sugeridas mais ou menos conscientemente pelos próprios hipnotizadores.

De fato, os sujeitos hipnotizados por Keeton aceitam o esquema do hipnotizador deles: declaram que todos são reencarnados logo após a morte.

Aqueles hipnotizados por Arnall Bloxham transcorrem longos períodos nas esferas astrais. Aqueles de Helen Wambach escolhem o sexo antes de se reencarnarem e aqueles de Edith Fiore se reencarnam entre parentes que se odeiam.

As famosas experiências do Deja vu são facilmente explicáveis com dados e elaboração dos dados que ressurgem do subconsciente seguidos a associações emotivas induzidas por imagens, sensações, lugares, pessoas, situações que contêm elementos análogos àqueles depositados no subconsciente.

Além do mais, a própria parapsicologia fornece instrumentos analíticos para demonstrar como muitos casos de suposta reencarnação sejam na realidade fenômenos de possessão. (14)

Bruto Maria Bruti

Notas:

1) cfr Jean Daujat, Psycologie contemporaine et pensée chrétienne, Téqui, Paris 1976

2) cfr Pierre Marie Emonet O.P., Mirella Lorenzini O.P., Conoscere l’anima umana, elementi di antropologia filosofica, edizioni studio domenicano, Bologna 1997; cfr Gianfranco Basti, Il rapporto mente-corpo nella filosofia e nella scienza, ed. studio domenicano, Bologna 1991, in particolare da pag 265 a pag 269; cfr Tommaso d’Aquino S. Th., I,76,8c, eccetera; cfr Corrado Manni, Il risveglio dal coma? Attenzione a non dire eresie, Il Medico d’Italia, n.6, 7 marzo 1995, p. 9

3) San Pio X, Catechismo Maggiore, ed. Ares, Milano, sesta edizione 1987, n.50, 51, 52 p.22.

3) cfr San Tommaso D’Aquino, Summa Teologica I, q. 75, a. 5; citazione, Pierre –Marie Emonet O.P., Mirella Lorenzini O.P., Conoscere l’anima umana, elementi di antropologia filosofica, edizioni studio Domenicano, Bologna, 1997, p.71

4) cfr San Tommaso d’Aquino, Summa teologica I, q.75, a.5; citazione, Pierre- Marie Emonet O.P., Mirella Lorenzini O.P., Conoscere l’anima umana, elementi di antropologia filosofica, edizioni Studio Domenicano, Bologna, 1997, p.71

5) cfr San Tommaso d’Aquino II Sent. Dist.XIX q.I, 1, art.1; Summa contra Gentiles lib.II, cap.49; cfr Gabriele Paolo Carosi, Compendio di filosofia, ed. Paoline, Roma 1984, pp.396-397

6) cfr Ramòn Lucas Lucas, L’uomo spirito incarnato, compendio di filosofia dell’uomo, ed. San Paolo, Milano 1993, pag 314-330; cfr San Tommaso d’Aquino, Summa Teologica I, q. 75, a. 6

7) Pierre – Marie Emonet O.P., trad. it., in Pierre Marie Emonet O.P. e Mirella Lorenzini O.P., Conoscere l’anima Umana, ed. Studio Domenicano, Bologna 1997, pp.10-11.

8) cfr Armando Plebe, Storia del pensiero, vol.II, ed. Ubaldini, Roma 1970, pp.106-107

9) cfr San Tommaso d’Aquino, Summa Teologica I, q. 76, a. 1, q. 90, aa 2 –3; cfr Sofia Vanni Rovighi, Elementi di filosofia, vol. III, ed. La Scuola, Brescia 1963, pag 178; cfr Ramòn Lucas Lucas, L’uomo spirito incarnato, compendio di filosofia dell’uomo, San Paolo, Milano 1993, pp.288-299

10) S Agostino, Le Confessioni, ed. Paoline 1975, trad. di Aldo Landi, , libro VIII, cap. IX , p 257.

11) Carlos Aldunate, Il cristiano di fronte al paranormale, ed. Ancora, Milano, marzo ’94, pag.56-58

12) cfr Fernando Palmés S.J., Gli errori dello spiritismo, I Di oscuri, trad. it., Genova 1989, pp.388-392

13) Giovanni Paolo II, Sollicitudo rei socialis, n.3.

14) J. Head – L. Cranston, Il libro della reincarnazione, Milano 1980; H. Wambach, Life before life, New York 1979; E. Fiore, You Have Been Here Before, New York 1979; H. Sherman, Vivrai dopo la morte, Milano 1984.

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A Igreja Primitiva era Católica ou Protestante?

12 Segunda-feira Mar 2012

Posted by marcosmarinho33 in Da Santa Igreja

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aliança, apóstolos, bíblia, católica, cristo, debate, deus, divergências, ecumenismo, fé, igreja, lutero, papa, pedro, primitiva, protestante, religião

É interessante notar como o Protestantismo alega ser o retorno às origens da fé, ao Verdadeiro Cristianismo, enfim o verdadeiro confessor da fé legítima dos Primeiros séculos. Aliás, diga-se de passagem, se existe uma constante entre as religiões não-católicas é a chamada “teoria do resgate”. A imensa maioria delas (a quase totalidade) afirma que o cristianismo primitivo foi puro e limpo de todo erro, mas que, com o tempo, os homens acabaram por perverter a verdade cristã, amontoando sobre ela uma enormidade de enganos.
O verdadeiro cristão, sob este prisma, seria aquele que, superando tais enganos, redescobre o “verdadeiro cristianismo’, com toda a sua pureza e singeleza.

Para estas religiões, o responsável pelos erros que se acumularam no decorrer dos séculos é, quase sempre, o catolicismo. Já a religião que “resgatou a verdade” varia de acordo com o gosto do freguês: luteranismo, calvinismo, pentecostalismo, espiritismo, etc.

De uma certa forma, mesmo as religiões esotéricas, a Teologia da Libertação, a maçonaria e (pasmen!) o próprio islamismo bebe desta “teoria do resgate”.

O motivo do universal acatamento desta “teoria” é o fato de que, para o homem, é muito difícil, diante dos ensinamentos de Jesus Cristo, e da santidade fulgurante dos primeiros cristãos, negar, seja a validade daqueles ensinamentos, seja a beleza desta santidade. Portanto, as pessoas precisam acreditar que, de uma certa forma, se vinculam a Jesus Cristo e às primeiras comunidades cristãs, ainda que não diretamente.

Mas igualmente, é muito difícil para o orgulho humano aceitar que este genuíno cristianismo existe, intocado, dentro do catolicismo. Aceitá-lo, para todos os grupos não católicos, seria aceitar que estão errados e que, muitas vezes, combateram contra o verdadeiro cristianismo. Desta forma, a “teoria do resgate” é a maneira mais fácil para que um não-católico possa considerar-se um “verdadeiro discípulo de Cristo” sem ter que reconhecer os erros e heresias que professa.

O problema básico de todos estes grupos é que existem inúmeros escritos dos cristãos primitivos e, por meio de tais escritos é que alguém, afinal de contas, pode saber em que criam e em que não criam os cristãos primitivos. E estes escritos são uma devastadora bomba a implodir todos os grupos que ousaram a se afastar da barca de Pedro. Eles solenemente atestam que o cristianismo primitivo permanece intacto dentro do catolicismo. Assim (ironia das ironias), os adeptos da “teoria do resgate”, freqüentemente, para defender o que julgam ser a fé dos cristãos primitivos, são obrigados a desconsiderar todo o legado destes primitivos cristãos.

O protestantismo é o mais solene exemplo de tudo o quanto acima dissemos.

Em nosso artigo “Como o protestantismo pode ser um retorno às origens da fé?”, já expusemos como o protestantismo não confessa a fé que os primeiros cristãos confessaram, fé esta que receberam dos Santos Apóstolos. Quem estuda com seriedade as origens da fé e a história da Igreja, insistimos, sabe que a tão referida Igreja Primitiva, é na verdade a Igreja Católica dos primeiros séculos.

Neste presente artigo, gostaríamos de lançar a seguinte pergunta: teria sido o cristianismo primitivo uma união de confissões protestantes ou uma única confissão católica?

Sabemos que o Protestantismo ensina que todos os crentes em Jesus formam a Igreja de Cristo. Desta forma, não interessa se o crente é da Assembléia de Deus, se é Luterano e etc; são crentes em Jesus e fazem parte da Igreja Invisível de Cristo, mesmo confessando doutrinas diferentes. Curiosamente (e este é um paradoxo insuperável desta “eclesiologia” chã e rastaqüera), apenas os católicos é que não fazem parte deste “corpo invisível”, ainda que confessemos que Jesus Cristo é o Senhor do Universo.

O protestantismo, como percebe o leitor, é algo bastante curioso…

Aqui é importante que o leitor não confunda doutrina com disciplina. O fato de na Assembléia de Deus os homens sentarem em lugar distinto das mulheres em suas assembléias, e o fato dos Luteranos não adotarem esta prática, não é divergência de doutrina entre estas confissões, mas de disciplina. A divergência de doutrina nota-se pelo fato dos primeiros não aceitarem o batismo infantil e os segundos aceitarem. Isto é para citar um exemplo.

A doutrina é a Verdade Revelada, é o núcleo da fé, é o que nunca pode mudar. A disciplina é a forma como a doutrina é vivida, e é o que pode mudar, desde que não fira a doutrina.

Uma análise completa de como seria o passado do Cristianismo se ele tivesse sido protestante exigiria a escrita de um livro. Então, neste artigo vamos apenas verificar a questão das resoluções tomadas pela Igreja Primitiva a fim de combater o erro, isto é, as heresias.

Ao longo da história, a Igreja se deparou com sérios problemas doutrinários. Muitos cristãos confessavam algo que não estava de acordo com a fé recebida pelos apóstolos.

A primeira heresia que a Igreja teve que combater a fim de conservar a reta fé foi a heresia judaizante.

Os primeiros convertidos á fé Cristã eram Judeus, que criam que a observância da Lei era necessária para a Salvação. Quando os gentios (pagãos) se convertiam a Cristo, eram constrangidos por estes cristãos-judeus a observarem a Lei de Moisés. Os apóstolos se reúnem em Concílio para decidir o que deveria ser feito sobre esta questão.

Em At 15, o NT dá testemunho que os apóstolos acordaram que a Lei não deveria ser mais observada. E escreveram um decreto obrigando toda a Igreja a observar as disposições do Concílio.

Veja-se este Concílio de uma maneira mais pormenorizada. Haviam dois lados muito bem definidos em disputa, cada qual contando com um líder de enorme expressão. O primeiro destes lados era o já citado “partido dos judaizantes”,  que tinha, como sua cabeça, ninguém menos do que São Tiago, primo de Jesus Cristo e a quem foi dado o privilégio de ser Bispo da Igreja Mãe de Jerusalém. Contrário a este partido, havia o que advogava que, ao cristão, não se poderia impor a Lei de Moisés, visto que o sacrifício de Jesus Cristo era suficiente e bastante para a salvação de quem crê. Como cabeça deste grupo, estava São Paulo, o mais influente apóstolo de então, a quem Deus havia dado o privilégio de “visitar o terceiro céu”, e de conhecer coisas que, a nenhum outro ser humano, foi dado conhecer.

Dois grupos muito fortes, com líderes extremamente influentes. Realiza-se o Concílio num clima de muita discussão. Estavam em jogo a ortodoxia e a salvação da alma de todos nós. No concílio, foram estabelecidas duas coisas muito importantes, de naturezas diversas.

Em primeiro lugar, São Pedro afirmou que os cristãos não estavam obrigados à observância da lei, definindo um ponto de doutrina imutável e observado por todos os cristãos até hoje (At 15, 7-8). Aliás, a liberdade cristã, vitoriosa neste Concílio, é o ponto de partida de toda a  teologia protestante. Não deixa de ser curioso o fato de que este núcleo teológico acatado por todos eles foi definido, solenemente, pelo primeiro Papa, muito embora eles afirmem que o Papa não tem poder para definir coisa alguma…

Pouco depois, São Tiago sugeriu, juntamente com a proibição de uniões ilegítimas, a adoção de normas pastorais (a saber: a abstinência de carne imolada aos ídolos, e de tudo o que por eles estivesse contaminado),o que foi aceito por todos e imposto aos cristãos. Tais normas, hoje não são seguidas. Por que? Nós católicos temos o argumento de que tais normas eram disciplinares e não doutrinárias, e que a Igreja Católica que foi a Igreja de ontem com o tempo as revogou; assim como uma mãe que aplica normas disciplinares a um filho quando é criança e não as utiliza mais quando o filho se torna um adulto.

E qual o argumento dos protestantes por não observarem tais normas. Não deixa de ser curioso o fato de que não existe uma revogação bíblica destas normas, e, portanto, os protestantes (adeptos da ?sola scriptura?) deveriam observá-las. No entanto, não as observam. Revogaram-nas por conta própria. E, ainda por cima, nos acusam de “doutrinas antibíblicas”…

Nada mais antibíblico, dentro do tenebroso mundo da “sola scriptura”, do que não seguir as normas de At 15, 19-21…

Bem, prossigamos. Este Concílio, portanto, foi exemplar por três motivos:

a) narra uma intervenção solene de São Pedro, acatada por todos e obedecida até pelos protestantes hodiernos, ilustrando a infalibilidade papal;

b) narra a instituição de uma norma de fé por todo o concílio (qual seja: a abstenção de uniões ilegítimas), igualmente seguida por todos até hoje, o que ilustra a infalibilidade conciliar;

c) narra a instituição de normas pastorais, que se impuseram aos cristãos e que deixaram, com o tempo de serem seguidas, muito embora constem da Bíblia sem jamais terem sido, biblicamente, revogadas (o que, por óbvio, não cabe dentro do “sola scriptura”).

Ao fim do Concílio, portanto, e de uma certa forma, os dois lados estavam profundamente desgostosos. Em primeiro lugar, o grupo dos judaizantes teve que aceitar a tese de São Paulo como sendo ortodoxa. Afinal, São Pedro em pessoa o afirmara e, diante das palavras dele, a opinião de São Tiago não tinha lá grande importância. Como católicos que eram, curvaram-se, assim como o próprio São Tiago se curvou.

Imaginemos se fossem protestantes. Afirmariam que não há base escriturística para a afirmação de São Pedro. Que, sem versículos bíblicos (do cânon de Jerusalém, ainda por cima!), não acatariam aquela solene definição dogmática. Que São Pedro, sendo uma mera “pedrinha”, não tinha poder de ligar e de desligar coisa nenhuma, muito embora Jesus houvesse dito que ele o tinha. Afirmariam, ainda, que todos os cristãos são iguais, e que, portanto, São Tiago era tão confiável quanto São Pedro, pelo que a palavra deste não poderia prevalecer sobre a daquele, principalmente quando todas as Escrituras diziam o contrário.

Por fim, criariam uma nova Igreja. A Igreja do Apóstolo Tiago, verdadeiramente cristã, alheia aos erros do papado desde o princípio.

Imaginemos, agora, o lado dos discípulos de São Paulo. É verdade que sua tese saiu vitoriosa do Concílio, mas, em compensação, tiveram que acatar as normas pastorais de cunho nitidamente judaizante. Como bons católicos que eram, entenderam que a Igreja foi constituída pastora de nossas almas e que, portanto, tais normas eram de cumprimento obrigatório.

Imaginemos, agora, se fossem protestantes. Afirmariam que São Paulo teve uma “experiência pessoal” com Jesus e que, nesta experiência, o Senhor lhe dissera que ninguém deveria se preocupar com o que come ou com o que bebe.  Além disto, a experiência cristã é, eminentemente, espiritual e não pode sem conspurcada ou auxiliada por coisas tão baixas como a matéria (muitos protestantes, na mais pura linha gnóstica, têm horror a tudo o que é material). Portanto, este Concílio estava negando a verdade cristã, pelo que não se sentiriam obrigados a coisa alguma nele definida.

Acabariam, finalmente, fundando uma nova Igreja. A “Igreja Em Cristo, Somos Mais do que Livres”, ou “Igreja Deus é Liberdade.”

Este foi o primeiro concílio da Igreja. Realizado por volta do ano 59 d.C., e narrado na Bíblia. Portanto, é “cristianismo primitivo” para protestante nenhum botar defeito!

Neste ponto, perguntamos: os protestantes realizam concílios para resolverem divergências doutrinárias? Sabemos que não. Então, como os protestantes podem avocar um pretenso retorno ao “cristianismo primitivo” se não resolvem suas pendências como os primitivos cristãos? Somente por aí já se percebe que a “teoria do resgate” não passa de uma desculpa de quem, orgulhosamente, não quer aderir à Verdade.

Portanto, se a Igreja Primitiva tivesse sido protestante, como defendem alguns, este concílio não se realizaria. Primeiro que não se incomodariam se alguns cristãos confessam algo diferente, pois para os protestantes, o que importa é a fé em Cristo. A doutrina não importa, o que importa é a fé. Se você tem fé e foi batizado está salvo. Não é assim no protestantismo?

Em segundo lugar, supondo a realização do concílio, como já se viu acima, nem os cristãos judaizantes nem os discípulos de São Paulo não adotariam as disposições do Concílio em sua inteireza. E então não haveria de forma alguma uma só fé na Igreja.

Verificamos que então que a fé primitiva não era protestante, era católica; por isto eles sabiam que deveriam obedecer a Igreja pois criam que Cristo a fundou para os guiar na Verdade (cf. 1Tm 3,15), assim como nós católicos cremos. Tanto é assim que, nos séculos que se seguiram, os “cristãos primitivos” continuaram resolvendo suas pendências doutrinárias segundo o modelo de At 15. Concílios ecumênicos e regionais se sucederam por toda a história da cristandade, sempre acatados e respeitados. Alguns deles (vá entender!) são acatados e respeitados até pelos protestantes.

Depois da heresia judaizante, a ortodoxia (reta doutirna) cristã teve que combater as seguintes heresias: gnosticismo, montanismo, sabelianismo, arianismo, pelagianismo, nestorianismo, monifisismo, iconoclatismo, catarismo, etc. Para saber mais sobre estas heresias ler artigo “Grandes Heresias”. Este mesmo artigo nos mostra como muitas destas heresias se revitalizaram nas seitas protestantes, que, assim, embora aleguem um retorno ao “crsitianismo primitivo”, acabam por encampar doutrinas anematizadas por estes mesmos cristãos primitivos.

Como costumamos dizer, a coerência não é o forte do protestantismo…

O fato é que graças á realização dos Concílios Ecumênicos ou Regionais, graças aos decretos Papais, e à submissão dos primeiros cristãos aos ensinamentos do Magistério da Igreja, é que foi possível que houvesse uma só fé na Igreja antes do século XVI (antes da Reforma). Foi pelo fato da Igreja antiga ser Católica, que as palavras de São Paulo (“uma só fé” cf. Ef 4,5) puderam se cumprir.

Se a Igreja Antiga fosse protestante, simplesmente, o combate às heresias não teria acontecido, e com toda certeza nem saberíamos no que crer hoje. O mundo protestante só não e mais confuso porque recebeu da Igreja Católica a base de sua teologia.

Como ensinou São Paulo: “A Igreja é a Coluna e o Fundamento da Verdade” (cf. 1Tm 3,15). Foi assim para os primeiros cristãos e assim continua para nós católicos.

Assim como no passado, continuamos obedecendo aos apóstolos (hoje são os bispos da Igreja, legítimos sucessores dos apóstolos) pois continuamos crendo que Jesus fundou sua Igreja nos ensinar a Verdade através dela.

Se isto foi verdade no passado, necessariamente é verdade agora e continuará sendo sempre.

Estude as origens da fé, procure saber sobre os Escritos patrísticos e descubra a Verdade, assim como nós do Veritatis Splendor, que somos ex-protestantes (em sua maioria) descobrimos.

Não rotulem, conheçam.

“Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”.

Autores: Alessandro Lima e Alexandre Semedo.

Fonte: Veritatis Splendor

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‎”Foi Sempre privilégio da Igreja, Vencer quando é ferida, Progredir quando é abandonada, e Crescer em ciência quando é atacada.” (Santo Hilario de Potiers, Dr. da Igreja).

‎"Foi Sempre privilégio da Igreja, Vencer quando é ferida, Progredir quando é abandonada, e Crescer em ciência quando é atacada." (Santo Hilario de Potiers, Dr. da Igreja).

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