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Sermão do Fr. Bento da Trindade para o dia das quarenta horas, séc. XVIII

12 Segunda-feira Ago 2013

Posted by marcosmarinho33 in Da Doutrina, História da Igreja

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Bahia, Colonização, evangelização, história, História de Portugal, História do Brasil, Homilia, Pregação, Quaresma, Religião na Colônia, século XVIII, Sermão, Universidade de Coimbra

Este sermão foi transcrito do documento original disponibilizado digitalmente no sítio do Arquivo da Torre do Tombo, sob o código PT/TT/RMC/B-E/001/6354. Inclui despacho da Mesa para imprimir e voltar a conferir de 19 de Julho de 1784, mas não se sabe ao certo qual é a data exata do Sermão, mas somente que foi durante o século XVIII e que foi pregado na Catedral da Bahia. Segue a transcrição:

 

Sermão do primeiro dia de quarenta horas, pregado na Sé da Bahia pelo Padre Mestre Doutor Frei Bento da Trindade, Opositor às Cadeiras de Teologia da Universidade de Coimbra, Qualificador do Santo Ofício, e Examinador das três Ordens Militares.

Non in comissationibus et ebrietatibus; non in cubilibus et impudicitiis; sed induimini Dominum Iesum Christum. – Não vos entregueis aos exessos de comida, e bebidas; Não aos da impudicícia, e da impureza; mas vesti-vos da graça de Jesus Cristo. I Paul. Ad. Rom. 13, 12.

Antiga Sé da Bahia

Esta era a breve exortação, que São Paulo dirigia aos primeiros fiéis habitadores de Roma. Querendo apartá-los dos excessos, que um desgraçado resto de seu abjurado gentilismo deixava entrever ainda nos seus costumes, o Apóstolo lhes lembrava as novas obrigações da sua vocação ao Evangelho, a sublime santidade do Cristianismo que haviam abraçado, e a grande incompatibilidade de suas desordens com a sua profissão. Persuadiam-lhes vivamente a frugalidade nas suas mesas, a isenção de todas as ações de impureza, e de todos os espetáculos, e divertimentos semelhantes aos dos Gentios. Renunciai, dizia ele, todas as obras das trevas[1], e vesti armas de Luz. A noite de vossas superstições, e impiedades é passada[2] na renúncia solene, que fizestes no Batismo, do mundo, e de suas pompas. Um dia mais luminoso, e mais sereno se seguiu às vossas antigas trevas. Outras festas mais augustas, outros prazeres mais doces, outra alegria mais sólida, outra mesa mais deliciosa, mais Santa, mais Divina, deve interessar vossos cuidados. Não são já os divertimentos profanos, e gentílicos, que devem recrear o vosso espírito, não os indignos excessos de comidas, e bebidas, não as ações vergonhosas da impudicícia, e da Luxúria; mas os inocentes prazeres da virtude, as doçuras verdadeiras da graça de Jesus Cristo, e as delícias inefáveis de sua sagrada Mesa. Non in comissationibus et ebrietatibus; non in cubilibus et impudicitiis; sed induimini Dominum Iesum Christum.

            Mas se uns erros, ou abusos escapados talvez mais à ignorância do que à malícia daqueles primeiros Fiéis, excitavam tão vivamente o zelo do Santo Apóstolo; que seria se ele ivesse observado a dissolução dos nossos divertimentos? Qual seria o seu horror, e o seu espanto, se ele tivesse visto nesta terra os excessos praticados nestes dias? Que diria, se tivesse visto o Cristianismo expirante, e quase abolido entre nós? A modéstia e a decência proscritas, e o sexo antes depositário do pudor, rompendo todos os diques da retenção, e do recato? Que diria, se ele tivesse visto os sexos confundidos, encobrindo em seus rostos a imagem, e semelhança de Deus, para tomar as Liberdades da mais impudente idolatria? O demônio atraindo a seu partido quase toda uma Cidade, que se atribui a qualidade de Cristã? Usurpando ao Altíssimo as adorações devidas; e opondo à Santa quarentena do jejum, e penitência, que vai a principiar, outra quarentena ímpia, que acaba[3], de abominações, e de escânda-los? Que diria, (?)sena-solenidade deste Tríduo, que nos devia dispor para entrarmos dignamente nos dias de salvação, ele visse os nossos Templos desertos, as santas solenidades sem concurso, Jesus Cristo abandonado, e quase solitário no Divino Sacramento, sem que a sua presença contenha tantas desordens, ou acabo de atrair tantos desgraçados desertores de sua Mesa, e do seu Templo? Que diria… mas eu me encho de horror, e não me atrevo mais a introduzir a S. Paulo no meio de uma dissolução tão excessiva. Que diria pois, eu não digo já o Santo Apóstolo, mas um gentio, um infiel, um estrangeiro à vista disto? Que? São pois estes, diria ele, os divertimentos de um Povo, que se preza de Cristão? E que diz ser a nação especializada de Deus, Povo de escolha, e de benção, gente Santa? Genus electum, populus in acquisitionem, gens santa[4]? É este aquele Povo, que nos chama infiéis? Que Insulta os nossos ritos, costumes, e nos exagera a sua probidade, a sua ética, e as suas virtudes em preferência aos mais Povos? É este, enfim, o Poo que adora a um Deus crucificado, que crê a sua presença no Sacramento do Altar, e que diz que o recebe nas espécies de pão? E que? Deixa ele ao Deus a quem adora para se recrear com o demônio, e com o mundo, que renunciou em seu Batismo? Deixa uma Mesa, que confessa ser Divina, e em que recebe o seu Deus, por uma mesa profana? Que contradição tão monstruosa! Que incompatibilidade tã horrível de máximas, costumes! Não, o Sol não ilumina algum Povo mais incoerente e dissoluto. Os climas, e os Países mais agrestes, as Seitas mais bárbares, os Povos mais dissolutos, não excedem a dissolução destes Cristãos; os bosques, e as brenhas mais incultas da Ásia, e da África não produzirão já mais habitadores… Suspendamos, Senhores, estas tristes reflexões, vós vos ofendereis talvez; mas permiti pela glória do Senhor, que vos faça ver neste discurso, todo o Terror de uma desordem tão escandalosa, ultrajante à nossa profissão, e Cristandade. Para isto eu não tenho mais que repetir-nos as palavras do Apóstolo, elas bastaram para converter a meu Padre Santo Agostinho; faça o Céu que elas produzam em algum de nós o mesmo efeito. – Não vos entregueis nestes dias aos criminais excessos da gula, e da impureza – Non in comissationibus et impudicitiis – Mas buscai a graça de Jesus Cristo, que hoje se nos oferece na mesa do Sacramento – sed induimini Dominum Iesum Christum – Eis aqui pois o meu assunto: A preferência infinita e incomparável das delícias da graça de JESUS Cristo no Divino Sacramento, sobre os falsos prazeres que o mundo nos oferece nestes dias. – Exurge in adjutorium meum Domine Deus salutis mea.       (?)princípio.

Inimigo cruel das nossas almas, cujo nome odioso não merece proferir-se, soberbo, (?)pretendido rival da glória do Onipotente,  tu tens triunfado enfim nestes dias desgraçados. Eis aí uma bem grande colheita, que nós tivemos a desgraça de por nas tuas mãos. Os quarenta dias passados de desordem te compensam largamente dos golpes que se te preparavam nos quarenta dias futuros da nossa reconciliação e penitência. Demos-te enfim tantos dias para exercitares sobre nós a tua escravidão, quantos a Igreja nos pede para nos pede para nos poder livrar dela. Tiveste enfim teu tempo. Recebemos de ti as Leis que ti nos quiseste impor. Entregamo-nos à tua descrição. Tens sido enfim bem obedecido, bem servido. Legislaste, venceste, triunfaste.

A Bahia (por que enfim, ó meu Deus, para que dissimular uma verdade, injuriosa sim e humilhante; mas que tem sido tão escandalosa, e tão notória?), a Bahia se deixou abandonar aos maiores excessos. A prostituída impudente de que fala o Evangelista Profeta no seu Apocalipse[5] fingindo abrir seu rosto, se mostrou mais descarada, e fez beber o veneno da taça dourada, que traz nas suas mãos, os desgraçados cúmplices da sua impudicícia: A desenvolta Babilônia parece que quis encher a medida de seus crimes: O Israel do Senhor adotou todas as abominações da Samaria, e dos desses estrangeiros Toda a Carne parece ter corrompido seus caminhos[6]. A abominação anunciada no Evangelho[7] quase se quis elevar no Lugar Santo. Saiu da Filha de Sião todo o seu Lustre[8]. Viram seus inimigos a sua ignomínia, e o seu opróbrio, e fizeram zombaria de suas solenidades[9]. Falemos sem figura Senhores, e tiremos de uma vez a máscara à desenvoltura , e à impiedade. Abandonou-de o Povo aos maiores excessos da Liberdade, e da desordem. Rompeu a Libertinagem quase todos os obstáculos da modéstia e da virtude. Desprezaram-se não só as Leis do Evangelho, mas as da probidade, e da decência. Tudo tem sido tolerado nests dias. Chegaram as Cerimônias da Igreja a dar assunto a espetáculos ridículos. Viram-se os Templos desertos nos dias de suas festas enquanto a extensão de seus átrios apenas podia abranger a multidão de concorrentes de um e outro sexo. Viu-se (Ó meu Deus, e poderei eu dizê-lo sem cobrir de confusão estas sagradas paredes?), viu passar com pompa, e solenidade o Divino Sacramento[10] entre as extensas alas de expectadores mascarados, e de mulheres manifestas em traje de outro sexo sem disfarçarem o próprio.

Inaudito excesso de irreligião, e impiedade, tu não eras ainda conhecido entre nós. Os séculos precedentes ignoraram totalmente este novo modo de insultar a presença real de Jesus Cristo no Divino Sacramento. No seio da Cristandade não se havia observado um semelhante espetáculo. Nossos Pais não tinham visto o Corpo de Jesus risto rodeado de adoradores com uma máscara ridícula no rosto. Esta nova impiedade estava só reservada para comparecer em nossos dias. E vós, adorado Redentor, vós não haveis talvez sofrido ainda nesse Divino Sacramento um ultraje semelhante. Na vossa Pão tínheis tolerado, é verdade, aos algozes, que vos cobriam o rosto[11], para vos oferecer adorações irrisórias; mas hoje por uma contradição não menos ímpia os mesmos que vos adoram com outra igual reverência cobrem ridiculamente o seu rosto, e tem o sacrílego arrojo de comparecer desta sorte, não só diante de vós, mas ainda junto a vós. Céus, como pudestes sofrer um semelhante atentado? Astro brilhante do dia, como não escondeste então as tuas Luzes!

Mas não Senhores, não espereis aqui de mim,  que eu levante a minha voz para clamar altamente contra este horrível desacato. Eu me não sinto com forças. A minha vos desfaleceu. O sangue se me gela nas veias, e euonfesso Senhores, que me envergonho, e contundo de vos recordar aqui verdades tão odiosas. Ocultemos antes esta nossa ignomínia em um eterno Silêncio. Não saibam os infiéis estas tristes anedotas, e este humilhante opróbrio da nossa Religião e Cristandade. Mas de que vale ocultar uma verdade tão notória? E por mais que quardemos silêncio nestes criminais abusos, não grita o escândalo mais do que todas as nossas invectivas? Que? Podemos nós dissimular a nossa dor vendo ao Divino Sacramento ultrajado deste modo? Podemos ver sem horror os nossos Templos desertos na hora dos Sacrifícios, enquanto as ruas, e praças se acham tão cheias de ociosos de um, e de outro sexo? Podemos ver tanta repugnância, e dispersão nesta solenidade augusta, e tanto gosto e concurso na ociosidade, nos divertimentos, nas danças? E que danças, ó Deus meu! Podia o inferno exalar tanta infecção entre nós? O demônio com todos os seus artifícios poderia descobrir um meio mais eficaz para inspirar todas as abominações da impudicícia, e para banir de entre nós todo o resto da decência, e do pudor? Poderia jamais esperar-se que chegasse a este ponto a Liberdade do sexo tímido, covarde, piedoso? Ao mesmo tempo este é o sexo mesmo, que (?)afeta nesta terra envergonhar-se de ir de dia aos nossos Templos, e de comparecer nas Santas solenidades da Igreja. E que Senhores! Tanto pejo para buscarem a Deus no seu Templo, e tanta dissolução e Liberdade em se manifestarem em público em semelhantes espetáculos!

Da Madalena, diz engenhosamente meu Padre Santo Agostinho, que soube buscar a salvação em Jesus Cristo com uma Santa impudência[12] – quaesivit pia impudentia sanitatem – Por mais que a sua qualidade e o seu sexo parecesse condenar a piedosa Liberdade de sair só de sua Cara aos olhos de toda a Jerusalém para ir buscar ao Salvador na Casa do Fariseu; por mais que a ocasião de um convite parecesse intempestiva, e os assistentes malignos nos seus juízos; esta Santa pecadora não repara em coisa alguma, sufoca o seu pejo natural, e se eleva sobre os sentimentos vulgares, para procurar santamente resoluta a sua salvação e o seu remédio – quasivit pia impudentia sanitatem. – Hoje porém as pessoas do seu sexo, nesta terra, por uma contradição bárbara, ridícula, extravagante sufocam o justo pejo que lhes deviam inspirar as indecentes liberdades, e se envergonham impiamente de ir de dia aos nossos Templos. Mais diligentes, Deus meu, para comparece nos anti-Cristãos divertimentos, que nas santas solenidades da vossa Igreja. Mais sensíveis aos insípidos prazeres dos sentidos do que aos doces atrativos da vossaamável presença. Mais interessadas enfim nos excessos da gula e intemperança de suas mesas do que nas delícias inefáveis da mesa da Eucaristia.

Ah Senhor, quando vós instituístes este Divino Sacramento, o compêndio de todas as maravilhas do vosso amor, esperáveis vós experimentar tanto fastio, repugnância nos vossos Filhos para vos assistirem e receberem neste sagrado banquete? Esperáveis achar-vos abandonado no vosso Trono desconhecido, e rejeitado por aqueles mesmos por cujo amor obrastes tantos excessos? Esperáveis ver-nos entregues nestes dias aos excessos da gula, e da intemperança, enquanto vós nos ofereceis nesse adorável Sacramento a vossa Carne, o vosso Sangue, para nos nutrir docemente? E são, contudo, estes os vossos Filhos, o vosso Povo fiel, a vossa amada Conquista! – Haeccine redis Domine popule stulte et insipiens[13] – É pois assim que tu correspondes ao teu Deus, povo ingrato e insensato? Assim lhe pagas a fineza de te buscar, de te assistir, de te nutrir, de te amar com tanto excesso no Divino Sacramento? Ah! Um Deus exposto, e manifesto às vossas adorações não vos merece mais amor, mais atenção? Podestes dar ao mundo os quarenta dias passados, e não podeis dar ao Senhor quarenta horas de culto neste tríduo. A sua real presença não vale acaso o sacrifício de três dias de recolhimento, e de abstinência? Não tem a sua presença, e a sua graça alguns atrativos para vós? O seu sagrado banquete não excitará em vos mais do que náusea, e fastio?

Ide pois, Cristãos ingratos, esconder longe da presença do Senhor a vossa ingratidão. Ide preencher a medida dos vossos crimes. Ide acrescentar mais estes três dias aos quarenta passados da vossa dissolução. Ide alegrar-vos tristemente nesses recreios pagãos; mas levai convosco aquela terrível sentença do Senhor – ai de vós os que vos alegrais agora, tristemente à despesas da virtude; porque chorareis deveras algum dia – vae vobis, qui ridetis nunc: quia lugebitis[14] – Vinde vós na fala destes ingratos, ó verdadeiros Cristãos, vinde gozar aqui da presença do Senhor, e saciar-vos das torrentes de delícias da sua Divina mesa. Vinde desagravar a Jesus Cristo dos insultos que recebe dos ímpios neste tríduo, e dar-lhe um claro testemunho da vossa Fé, e do vosso amor. Vós aqui achareis no sagrado banquete outros prazeres mais sólidos, outro alimento mais doce, outras delícias mais puras, mais confortantes, do que o mundo pode dar-vos. Que vantagem para vós ser convidados à mesa do Bom Senhor com preferência a tantos outros! Que felicidade, gozar da sua presença, entrar em sua amizade, e recebê-lo nos vossos corações.

Ah quanto vós sois venturosos, dizia antigamente Moisés ao povo de Israel, quanto vós sois venturosos na proteção do Senhor que vos assiste no Tabernáculo? Quanto sois privilegiados entre todas as Nações do Universo nos benefícios e prodígios com que vos especializa e favorece! Considerai todos os Povos da terra, e vede se há algum tão favorecido de Deus, que tenha umas cerimônias tão augustas umas festas tão Divinas, e umas Leis tão adoráveis, e tão Santas, como as que eu hoje vos proponho – quae est alia gens sic ínclita, quae habeat ceremonias iustaque iudicia, et Legem, quam ego propono hodie?[15]  Como querendo dizer-lhes: Vós acabais de sair dos ferros do Faraó e de seu jugo duríssimo. O Senhor vos libertou com mil prodígios na força vitoriosa de seu braço. Ele iluminou o vosso especializado continente enquanto sepultou ao resto do Egito em escuríssimas trevas. Tem-vos conduzido sempre como pela mão no deserto: precede a vossa marcha na coluna viajante. Nutre-vos de um pão celestial e de uma água milagrosa: assiste-vos no Tabernáculo; protege as vossas Tribos no asilo da Arca Santa: está no meio de vês, e se faz singularmente o vosso Condutor, a vossa proteção, o vosso Deus. Comparai o vosso estado presente com o que a pouco deixastes, e reconhecei a preferência destes dias luminosos sobre os tempos obscuros da vossa escravidão. Comparai os ritos abomináveis dos Egípcios com as nossas Cerimônias; as suas festas impuras com as nossas Solenidades; as suas viandas insípidas com as delícias do maná; as suas horríveis divindades como Deus dos nossos Pais, e reconhecendo a preferência infinita desta felicidade sobre aquela desgraça, vede se há um toda a terra algum povo tão feliz, alguma religião tão Santa, algumas Leus, ou Cerimônias tão augustas como as que hoje contemplai – quae est alia gens sic ínclita, ut habeat ceremonias.

Augusto Legislador, Profeta Santo, extendei as vossas vistas até nós. Entrai hoje nos nossos Templos, observai os nossos mistérios, e reconhecei a incomparável preferência dos Cristãos sobre o Povo de Israel nas augustas cerimônias de nossa solenidade, nas Leis, e nos benefícios de Deus. Aparecei hoje aqui, e vós vereis ao Senhor executar aqui mais prodígios de amor no breve espaço de quarenta horas do que praticou antigamente nos quarenta dias que vos demorou sobre o monte; nos quarenta anos que conduziu a Israel pelo deserto, e mesmo nos quarenta séculos, que precederam a instituição daquele adorável Sacramento. Vos não achareis aqui já o Tabernáculo portátil, a Arca da Aliança, a nuvem caliginosa, o maná figurativo; mas achareis com infinita vantagem o espírito de significação dessas antigas figuras. Não achareis ao Deus majestoso de Sinai que faz-se conhecer sua presença ao povo aterrado com os raios e trovões, que fazem tremer o monte, ou com o fogo subterrâneo em que abrasa aos ímpios. Mas achareis a um Deus todo amor, todo doçura, que se faz pessoalmente presente às nossas adorações, que se mostra sem terror, que se familiariza sem reserva, e se dá sem distinção aos que o querem receber: um Deus, que nos nutre de sua Carne e de seu sangue, que entra nos nossos Corações, que se une intimamente a nós mesmos, que nos ama como Pai, que nos honra com a qualidade de seus Filhos, que nos comunica os seus dons, e a sua mesma Divindade. Um Deus que vem pessoalmente livrar-nos da nossa escravidão, que ilumina ele mesmo as nossas trevas, e acha as suas delícias em assistir entre nós. Ah! Que prodígio de amor e de Bondade! Verdadeiramente que não há alguma nação tão feliz, e gloriosa, que tenha suas divindades tão unidas a si como se une a nós o nosso Deus. – Non est alia natio tam grandis, quae habeat deos appropinquantes sibi, sicut Deus noster adest[16].

Não invejeis pois, Cristãos a felicidade do antigo Povo a quem o Senhor nutriu de Maná no deserto, nem a dos antigos Patriarcas, e Profetas a quem o Senhor comunicou mais abundantemente as suas luzes. Não invejeis o privilégio de Jacó, que o teve em seus braços[17], o de Moisés que o comunicou sobre o Monte[18]. Vós aqui gozareis outra familiaridade, outra doçura, outra abundância de graças incomparavelmente maiores. Não só comunicareis ao Senhor como Moisés, não só o tocareis como Jacó; mas o recebereis dentro de vós, e vos unireis intimamente a ele. – Ecce tibi conceditur non solum videre, et tangere, sed intra te sumere[19].

Atual Catedral Basílica de Salvador. Créditos: Osman Said, Flickr.

 

Buscai pois ao Senhor em quanto o podeis achar. Ah! Nestes dias desgraçados em que todos o abandonam, e em que o demônio lhe disputa tantas almas: quando os ímpios multiplicam contra ele os seus ultrajes então é que lhe devemos especiais homenagens, e serviços. Demos pois ao Senhor um testemunho manifesto de nossa fidelidade, isto é o mesmo JESUS Cristo que parece convidar-nos como em outro tempo a seus Discípulos; eis-me aqui reduzido só a vossa companhia, e assistência, dizia ele, esta é toda a porção de assistentes que me resta de um povo tão numeroso. Todos os mais me abandonaram, e se apartaram de mim, por ventura quereis vós também seguir o seu mau exemplo, e deixar-me como eles? – Nunquid et vos vultis abire?[20]

Povo Cristão, eis aqui pois os tristes dias em que o vosso Bom Senhor se acha quase só e abandonado de toda esta Cidade: ele se acha presente naquele adorável Sacramento só com uma pequena porção de assistentes; mas sereis vós tão desgraçados, que o queirais também deixar, e tomar o partido do mundo, e do demônio contra ele? – nunquid et vos vultis abire? – Oh! E que feliz ocasião de vos distinguir diante do vosso Deus, e de merecer a sua graça, e as suas recompensas! Que merecimento, e que glória para nós o consagrar estes três dias no desagravar por nossa fidelidade, e assistência da perfídia ingratidão dos maus Cristãos? Com que doce complacência nos veria Jesus Cristo entregues à Oração, e à Lição de um livro devoto nestas noites desgraçadas que tantos empregam em o ofender? Que espetáculo tão agrdável aos olhos do Senhor se algum dos que me ouvem se quisesse resolver a confessar-se e comungar, e prevenir o Santo tempo da quaresma com uma antecipada penitência!

Meu Deus do meu Coração, e que pouco é o que vós hoje me pedis em comparação do muito que vos devo? Que curto espaço é o de três dias de exercícios Cristãos em comparação de uma eternidade de glória que vós me prometeis se os aproveito bem, ou uma eternidade de tormentos a que me vou arriscar se os perder? Que vem a ser quarenta horasde recolhimento, e de oração por mais de quarenta anos que tenho passado em ofender-vos? Ah Senhor! Que [x] possa eu eternizar este breve espaço de tempo para o empregar todo em vos assistir, em vos servir, em vos amar. Eu vou pois, Senhor aproveitar esta comutação tão vantajosa; eu me sacrifico todo ao vosso serviço e ao vosso amor nestes dias, para que vós me compenseis com abundância de graça, com eternidade de glória.

Assim seja.


[1] Ad Rom. 13. 12.

[2] Ibd.

[3] Tinham acabado no dia antecedente, quarenta dias de máscaras.

[4] Ep. I. Petr. 2. 9.

[5] Apoc. 17. 2.

[6] Genes. 6. 12.

[7] Math. 24. 15

[8] Tenum. Thren. 1. 6. (?)

[9] Ibi. 7.

[10] Na procissão do Santíssimo Sacramento da Vitória

[11] Marc.14 65.

[12] I. Aug. Lib. 50. Nom. 23.

[13] Deuter. 32. 6.

[14] Luc. 6. 25.

[15] Deuter. 4. 8

[16] Deuter. 4. 7.

[17] Genes. 32. 26.

[18] Exod. 20.

[19] S. Ioan. Chris. Hom. Ad populum.

[20] Evang. Joan. 6. 8.

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Transcrição do Edital inquisitorial “que costuma ler-se no primeiro Domingo da Quaresma”, 1659

11 Domingo Ago 2013

Posted by marcosmarinho33 in História da Igreja

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Edital que costuma ler-se no primeiro Domingo da Quaresma, história, História da Igreja, História de Portugal, História do Brasil Colonil, inquisição, Santo Ofícil, Torre do Tombo

Este texto é uma transcrição do Edital original que está no Arquivo da Torre do Tombo e pode ser encontrado digitalmente no site http://digitarq.dgarq.gov.pt/
A transcrição foi feita adaptando-se a linguagem da época para a de hoje.

“Os Inquisidores Apostólicos, contra a herética parvidade, e Apostasia nesta Cidade, e Arcebispado de Lisboa, e seu distrito, e c. fazemos saber aos que a presente virem, ou dela por qualquer via tiverem notícia, que considerando nós a obrigação que nos corre, de procurar reprimir, e extirpar todo o delito, e crime de heresia, e apostasia, para maior conservação dos bons costumes, e pureza de nossa santa Fé Católica; e sendo informados, que algumas pessoas, por nãoterem perfeito conhecimento dos casos que pertencem ao Santo Ofício, deixam de vir denunciar de alguns deles, e que não está suficientemente provido a este inconveniente, com se publicarem os ditos casos só nas ocasiões em que se celebram os Autos de Fé, pela pouca aplicação com que se ouvem naquela ocasião os editais, em que os ditos casos se relatam; e desejando achar meio, para que os fiéis Cristãos não fiquem com suas consciências encarregadas, e ilaqueados com as excomunhões que se fulminam nos ditos editais, nos pareceu mandar publicar de novo todos os ditos casos com esta nossa carta monitória. Pela qual autoridade Apostólica, mandamos a todas, e quaisquer pessoas Eclesiásticas, seculares e regulares, de qualquer grau, estado, preeminência, ordem, e condição que sejam, isentas, e não isentas, em virtude da santa obediência, e sob pena de excomunhão maior, ipso facto incurrenda, cuja absolvição a nós reservamos, que em termo de trinta dias primeiros seguintes, que lhes assinamos pelas três Canônicas admoestações, termo preciso, e peremptório, dando-lhes repartidamente dez dias por cada admoestação, venham denunciar, e manifestar ante nós o que souberem dos casos abaixo declarados.
Se sabem, ou ouviram, que algum Cristão batizado haja dito, ou feito alguma coisa contra nossa santa Fé Católica, e contra aquilo que tem crê, e ensina a santa Madre Igreja de Roma, ainda que o saibam em segredo natural, como for fora da confissão.
Que alguma pessoa depois de batizada, tenha, ou haja tido crença na lei de Moisés, depois do último perdão geral, que se publicou em cinco dias do mês de Janeiro de 1605, não reconhecendo a Cristo Jesus nosso Redentor por verdadeiro Deus, e Messias prometido aos Patriarcas, e profetizado pelos Profetas, fazendo os ritos, e cerimônias judaicas, a saber, não trabalhando nos Sábados, mas antes vestindo-se neles de festa, começando a guardar à sexta-feira a tarde; abstendo-se sempre de comer carne de porco, lebre, coelho, e peixe sem escama, e as mais coisas proibidas na lei velha, jejuando o jejum do dia grande, que vem no mês de Setembro, com os mais que os judeus costumam jejuar, solenizando suas Páscoas, rezando orações judaicas, banhando seus defuntos, e amortalhando-os com camisa comprida de pano novo, e pondo-lhes em cima uma mortalha dobrada, e calçando-lhes calções de linho, e enterrando-os em terra virgem, e covas mui fundas, e chorando-os com suas litiryas, cantando como fazem os judeus, e pondo-lhes na boca grãos de aljofor ou dinheiro de ouro, ou prata, e cortando-lhes as unhas, e guardando-as, e comendo em mesas baixas, e pondo-se detrás da porta por dó, ou fazendo outro algum ato, que pareça ser em obediência da dita lei de Moisés.
Que algm Cristão depois de batizado, siga, ou haja seguindo em algum tempo a maldita lei de Maomé, observando algum dos preceitos do seu Alcorão.
Que tenha, ou haja tido por boa a seita de Lutero, e Calvino, ou de outro algum heresiarca dos antigos, e modernos, condenados pela santa Sé Apostólica.
Negando, ou duvidando haver Paraíso para os bons, e inferno para os maus, e Purgatório em que as almas que neste mundo não satisfazem inteiramente suas culpas, são purgadas primeiro que vão gozar da bem-aventurança.
Negando, ou duvidando, que os sufrágios da Igreja, como são missas, orações, e esmolas, aproveitarão às almas dos defuntos que estão no fogo do Pugatório.
Negando, ou duvidando serem as pessoas obrigadas por preceito divino, a condenarem seus pecados aos Sacerdotes, afirmando que basta confessarem-se a Deus somente.
Sentindo mal, ou duvidando de algum dos artigos de nossa santa Fé.
Negando, ou sentindo mal dos Sacramentos da santa Madre Igreja, assim como da Ordem, e do Matrimônio, celebrando, ou confessando sacramentalmente sem ter Ordens de Missa, ou casando-se publicamente em face da Igreja depois de ter feito voto solene de castidade, ou tomando Ordens sacras, ou casando segunda vez, sendo vivo o primeiro marido, ou mulher.
Dizendo, ou afirmando, que o homem não tem liberdade para livremente obrar, ou deixar de obrar bem, ou mal.
Dizendo, que a Fé sem obras, basta para a salvação da alma, e que nenhum Cristão batizado, e que tenha Fé, pode ser condenado.
Dizendo, e afirmando, que não há mais que nascer e morrer.
Negando, haverem de ser venerados os Santos, e tomados por nossos intercessores diante de Deus.
Negando a veneração, e reverência às Relíquias, e imagens dos Santos.
Sentindo mal dos votos, Religiões*, e cerimônias aprovadas pela santa Madre Igreja.
Negando ao Sumo Pontífice, superioridade aos outros bispos, e a faculdade de conceder Indulgências, e a elas eficácia de aproveitarem às almas.
Negando a obrigação dos jejuns, nos tempos ordenados pela Igreja.
Afirmando, não serem pecados mortais, a onzena, ou fornicação simples.
Sentindo mal da pureza da Virgem santíssima Nossa Senhora, nem crendo que foi Virgem antes do parto, no parto e depois do parto.
Se sabem, ou ouviram, que alguma pessoa exercite a Astrologia Judiciária, leia, ou tenha livros dela, ou de qualquer outra arte de adivinhar.
Se sabem, ou ouviram, que alguma pessoa, tenha, ou leia livros proibidos, ainda com pretexto de licenças que para isto hajam alcançado da santa Sé Apostólica, por todas estarem revogadas por sua Santidade até sete de Junho de mil e seiscentos e trinta e três.
Se sabem, ou ouviram, que algum Confessor secular, ou regular, de qualquer dignidade, ordem, condição, e preeminência que seja, haja cometido, solicitado, ou de qualquer maneira provocado para si, ou para outrem a atos ilícitos, e desonestos, assim homens, como mulheres no ato da confissão sacramental, no confessionário, ou lugar deputado para ouvir de confissão, ou outro qualquer escolhido para este efeito, fingindo que ouvem de confissão.
Se sabem, ou ouviram, que alguma pessoa penitenciada pelo Santo Ofício, por culpas que nele haja confessado, dissesse depois, que confessara falsamente o que não havia cometido, ou descobrisse o segredo que passara na Inquisição, ou detraísse, e sentisse mal do procedimento, e reto ministério do Santo Ofício.
As quais coisas todas, e cada uma delas, que souberem por qualquer via, sejam cometidas, ou daqui em diante se cometerem, o virão denunciar na Mesa do Santo Ofício per si, ou per interposta pessoa: e nos lugares onde houver Comissãrio do Santo Ofício, denunciaram diante dele, e onde os não houver, cada qual a seu Confessor, o qual dentro do mesmo termo será obrigado ao fazer saber ao Santo Ofício: e passado o dito termo de trinta dias, não vindo fazer denunciação do que souberem (o que Deus não permita) por estes presentes escritos, pomos em suas pessoas, cujos nomes, e cognomes aqui havemos por expresso, e declarados, excomunhão maior, e os havemos por requeridos para os mais procedimentos que contra eles mandarmos fazer, conforme a Bula da Santa Inquisição, além de incorrerem na indignação do Onipotente Deus, e dos bem-aventurados São Pedro, e São Paulo, Princípes dos Apóstolos, e sob mesma pena mandamos, que pessoa alguma não seja ouzada a impedir, ou aconselhar, que não denunciem, ameaçando, subornando, ou fazendo algum mal aos que quiserem denunciar, ou houverem denunciado.
E assim denunciarão se sabem de alguma pessoa, ou pessoas, que tiverem cometido o nefando, e abominável pecado de sodomia.
E com a mesma Autoridade Apostólica mandamos com pena de excomunhão maior, e de cinquenta cruzados, aplicado para as despesas do Santo Ofício, a todos os Priores, Vigários, Reitores, Curas, e mais pessoas Eclesiásticas, seculares ou regulares, a quem esta nossa carta for apresentada, que no dia, e hora que lhes for apresentada, a leiam, ou façam ler em suas Igrejas, em voz alta, e inteligível, para que venha a notícia de todos, e não haja quem possa alegar ignorância.
E esta mesma carta mandarão por em uma tábua, e a guardarão cada um na Sacristia da sua Igreja, ou Convento, na qual estará sempre; e nos anos seguintes a lerão, e publicarão na primeira Dominga de cada Quaresma, e requeremos da parte da santa Sé Apostólica aos senhores Deães, e Reverendos Cabidos Sede vacantes, e Prelados maiores das Sagradas Religiões*, que façam por com os mais capítulos de visitações um, para que os Senhores Visitadores perguntem nas ocasiões de visitas, se os Párocos, ou Prelados menores cumprem com suas obrigações publicando esta dita carta na forma que fica ordenada; e achando que alguns se descuidaram nesta parte, façam sumário, que nos será enviado para procedermos contra eles conforme seu descuido, ou culpa merecer.
Dada em Lisboa no Santo Ofício sob nosso sinal, e selo dele aos 28 de fevereiro [ilegível] 1659.
[Assinaturas]”

* “Religiões” refere-se às Regras Monásticas adotadas pelo clero regular, e não outras religiões no sentido que se entende hoje.

Localização do documento: Arquivo da Torre do Tombo, em Lisboa. Código de referência: PT/TT/AJCJ/AJ029/00012

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As Mulheres na Idade Média

19 Terça-feira Jun 2012

Posted by marcosmarinho33 in História da Igreja

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abadessas, cavalheirismo, cortejo, cristianismo, desigualdade, feminismo, feudalismo, freiras, Hildegard von Bingen, história, homens, idade média, Igreja Católica, igualdade, machismo, mães, mentiras, mitos, mulheres, opressão, rainhas, rural, santa joana d'arc, sexismo, submissão, trovadorismo, virgem maria

É muito difundido o conceito de “Idade das Trevas” para designar o período medieval ( que durou do século V até o século XV ), uma época marcada pelo feudalismo, guerras e uma forte influência da Igreja Católica, o que faz com que esse período histórico seja bastante criticado e mal visto por alguns, inclusive pelas feministas, que afirmam que a Idade Média foi uma época opressiva.
Há muitas controvérsias em relação a essa época “sombria”, porém, tão interessante. A Idade Média desperta o interesse de muitos, pois o modo de vida, valores e concepção de mundo aos olhos do homem moderno são estranhos e poucos compreendem a honra e o espírito guerreiro medieval, de uma Europa renovada que acabava de ressurgir das cinzas de um paganismo desgastado, o qual fora renovado e renascia no tão difamado cristianismo medieval. Isso tudo parece estranho, principalmente aos olhos da mulher moderna, cuja mente é inundada por concepções históricas e filosóficas distorcidas pelo feminismo.
É claro que, por ser um período onde as mulheres aceitavam sua condição e não negavam os valores femininos, a Idade Média não ficou livre da fúria feminista. Elas não hesitam em fazer vitimismos e criticar fortemente o papel da mulher na sociedade medieval, acusando as mulheres medievais de serem submissas e culpando os homens “maus” e “opressores”. Essas idéias floresceram principalmente na década de 1960 e 1970.
Porém, é na Idade Média que surgiu o trovadorismo, com seu amor cortês, uma convenção amorosa onde geralmente um cavaleiro humilde dirige-se a uma mulher impossível, cantando o “bom amor”, que em geral é estéril, distante e impossível, exaltando a dama ideal. Além disso, as regras do cavalheirismo diziam que as mulheres deveriam ser tratadas com maior dignidade e respeito pelos homens.
Além de exercerem as funções de esposa e mãe, as mulheres tinham acesso à grande parte das profissões, assim como o direito à propriedade e podiam ocupar postos de comando, como rainhas ou abadessas (como Hildegard von Bingen, uma abadessa muito estimada entre os papas, reis e senhores). Inclusive, muitos reis tinham suas rainhas por trás auxiliando no governo, fazendo-as posteriormente influenciarem os filhos, evidenciando assim a importância e influência do papel da mulher como esposa e mãe.
Cerca de 90% de todas as mulheres viviam em áreas rurais e foram, portanto, envolvidas em algum tipo de trabalho rural. Geralmente, trabalhavam enquanto solteiras ou então quando se tornavam viúvas, as quais assumiam o comando da família e dos bens do marido, administrando terras e negócios. Também há registros de mulheres que estudaram em universidades, embora em número bem inferior ao de homens.
Houve mulheres notáveis durante esse contexto. Entre elas se destacou Santa Joana D’arc, uma modesta camponesa de dezenove anos que liderou o exército francês contra os ingleses na Guerra dos Cem Anos e foi morta queimada na fogueira. Segundo o que algumas feministas dizem, Sta. Joana D’arc foi morta por ser mulher, o que não faz sentido algum. Um exército não foi confiado a ela à toa e não a queimaram por ser mulher, mas sim por questões políticas.
Portanto, essas feministas criticam as mulheres medievais, mas são cegas de não notarem que elas são muito superiores as mulheres de hoje em dia, sem sombra de dúvidas. Talvez muitos mitos sobre as mulheres da Idade Média sejam concebidos devido aos materiais escassos acerca do assunto. Porém, é fato que os papéis femininos, de donzela e mãe, foram valorizados, com a exaltação da Virgem Maria, por exemplo, que trouxe de volta à tona a figura maternal, tão importante para os povos pagãos de outrora, mas perdida atualmente. O complexo de inferioridade e as mentiras do século XXI não permitem que as pessoas enxerguem o quanto o passado foi belo e o quanto ele tem para nos ensinar. Isso não significa, porém, que devemos nos prender a ele. Devemos olhar para trás com gratidão e agradecer às nossas ancestrais femininas, por terem se sacrificado para dar continuidade a nossa existência e ao nosso povo.
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Investigador chileno derruba lenda negra sobre a Inquisição

29 Terça-feira Maio 2012

Posted by marcosmarinho33 in História da Igreja

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Chile, fogueira, heresias, história, igreja, Inquisição Espanhola, medieval, mentira, mito, morte, perseguição religiosa, Santo Ofício, tortura

Lima, 28 Mai. 12 / 06:11 pm (ACI)

Um investigador chileno desmentiu as lendas negras criadas sobre a época da Inquisição, tanto a medieval como a espanhola, em relação à tortura e o exagero da quantidade de condenados à fogueira.

Em entrevista concedida ao grupo ACI o historiador René Millar Carvacho, professor na Pontifícia Universidade Católica do Chile, especializado no tema da Inquisição no Vice-Reino do Perú, explicou que “grande parte de toda a lenda negra desta época gira em torno da tortura, mas que a tortura, como meio de prova, formou parte do método de castigo da época”.

“Tergiversou-se como se isso fosse próprio da Inquisição, mas não é certo, isto foi algo próprio dos métodos judiciais desses anos. A justiça real também a usava e possuia o mesmo sistema”, relatou.

Do mesmo modo, indicou que os dados históricos dos castigos da Inquisição foram exagerados e se deram imagens escessivas em cifras de mortos e ações repressivas que não representaram a realidade.

“Sabemos que entre os anos 1570 e 1820, na América, período em que dura a Inquisição, 2500 pessoas passaram por ela, e desta quantidade só 50 foram condenadas à pena de relaxação (ou seja foram condenadas a morrer na fogueira), e destas 25 ou 30 mortas na fogueira, outros fugiram e o que foi queimado foi uma estátua em representação deles, e pelo geral estas estátuas eram contabilizadas (entre a quantidade de mortos)”, detalhou o historiador.

Em outro momento mencionou que as heresias mais comuns durante a Inquisição na Espanha se deram por parte dos falsos judeus conversos, protestantes; além da bruxaria e algumas outras faltas vinculadas a temas doutrinários. Enquanto que em Lima o maior número de processados foram por bigamia, feitiçaria e blasfêmias.

O perito assinalou que embora durante este período métodos violentos foram usados, os mesmos inquisidores se preocuparam por difundir o temor que a Inquisição gerava entre o povo para que as pessoas não deixassem os limites que marcava a fé.

Finalmente, referiu que um dos trabalhos que realizaram os historiadores das últimas décadas do século 20 foi justamente “tentar separar o que havia de mitologia em diversos aspectos relacionados à Inquisição, sobre tudo nos números do trabalho repressivo, números de processados e pessoas que foram condenadas à fogueira. Em tudo isso foi possível determinar cifras que estavam muito distantes das que foram elaboradas no século 19”.

René Millar esteve em Lima convidado pela Biblioteca Nacional do Peru em ocasião do simpósio “A santidade na Lima do vice-reinado”, dedicada aos Santos que viveram nesta cidade peruana no entre os séculos XVI ao XIX, como Santa Rosa de Lima e São Juan Massías. Este evento ocorreu no contexto das celebrações pelo 50º aniversário de canonização de São Martinho de Lima.

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Quem tem medo do lobo mau?

30 Segunda-feira Abr 2012

Posted by marcosmarinho33 in Da Doutrina

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bom pastor, doutrina, erros, falsos, guto, heresia, história, homossexual, jesus, lobo, mau, ovelhas, papa, pedro, perdição, profetas, protestante

Guto e Pedro costumavam ser dois moleques levados. Jamais obedeciam o pai. Este porém, os educava de uma forma muito liberal. Nada de moralismo ou opiniões antiquadas. Era um pai moderno. Os dois irmãos só respeitavam com firmeza os pedidos do avô, Seu Bento.

A família dos meninos morava em uma região habitada por muitos lobos. Mas não eram lobos comuns. Além de ferozes, eles tinham traços dos pecados humanos, eram trapaceiros e manipuladores. O prato principal desses animais: crianças.

A pedido do avô, Guto e Pedro jamais brincavam próximos às florestas. Todas as vezes em que eles iam visitar seu Bento, o humilde senhor lhes contava as histórias antigas sobre como os lobos faziam para seduzir as crianças e devorá-las. Sempre muito atentos, os dois nunca ousavam questionar a veracidade daquelas histórias. Confiavam no avô.

Todavia, seu Batista, pai dos garotos, não gostava nenhum um pouco das histórias que seu Bento contava aos meninos. Achava aquilo ridículo. Fruto da imaginação de um velho retrógrado e preconceituoso. Para Batista, os lobos eram animais mal compreendidos. Precisavam apenas de carinho e amor.

Cansado de ver os filhos tão reprimidos por causa do que o avô lhes contava, seu Batista disse: “parem de bobagens, meus filhos, não podemos ser preconceituosos. Temos que ensinar o amor. Os lobos são criaturas bondosas, não há porquê vocês não brincarem nas florestas”.

Porém, ao perceber que Guto e Pedro continuavam a brincar longe dos limites das florestas, seu Batista os proibiu de visitar o avô.

Longe dos conselhos de seu Bento, Guto e Pedro começaram a ceder aos pedidos do pai. A cada dia eles avançavam um passo adentro da floresta. Até que então, chegaram a brincar dentro dela.

Certa tarde, enquanto corriam pelos bosques, ambos deram de cara com um enorme lobo. A princípio, ficaram assustados devido às enormes garras e dentes do bicho. Todavia, astuto como deveria ser, o lobo logo mostrou-lhes um desenho. Era a casa dos dois pequenos irmãos. Dela, saía um enorme feixe de luz que ascendia ao céu. O lobo disse-lhes então que aquilo representava a amizade entre os homens e os lobos. Após um longo diálogo, os meninos se despediram e voltaram para casa.

Ao chegar, contaram ao pai: “conhecemos um lobo, ele é muito legal”. O pai, seu Batista, todo satisfeito logo disparou: “tá vendo como aquelas histórias de seu avô eram bobagens? Se os lobos fizeram algo de ruim no passado era por causa da opressão e da intolerância que eles sofriam. Hoje não, hoje é tudo paz e amor”.

Após festejarem o fato, seu Batista pediu aos meninos que convidassem o lobo para tomar um café. Pedido feito, pedido aceito. Naquela mesma tarde o lobo os encontraria para o café.

Por volta das 21 horas, toca a companhia. Era o convidado. Pratos na mesa, o jantar estava servido. Conversas, risadas, trocas de elogios. Seu Batista sai da mesa e vai ao quarto pegar um presente que comprara para o ilustre novo amigo de seus filhos.

Neste instante, enquanto seu Batista procura o presente do animal, o lobo levanta-se em fúria e parte pra cima dos garotos. Não sobra-lhes tempo para reagir, acabam ambos devorados. Nas mãos e na boca do lobo, as marcas do crime: sangue!

Seu Batista, ao se deparar com aquela cena, grita desesperado: mas o que você fez? O lobo olha pra ele, olha pra suas mãos, chora e diz: “Eu sou vítima da sociedade opressora. Eu não queria fazer isso, fui obrigado. Eu apenas quero amar. Não é o que você ensina? Por que então você está condenando o meu amor?

Seu Batista, comovido com as palavras do lobo, abraça-o, começa a chorar e diz: “Meu filho, perdoe-me. Eu não queria fazer isso. Eu te amo e eu também só quero amar”. Os dois olham um nos olhos do outro, abraçam-se novamente e caminham rumo à floresta para selar a paz entre lobos e homens e a construção de uma nova era.

Obs: este texto é pura ficção. Qualquer semelhança é mera coincidência

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A Resposta Católica: “Qual a origem do nome de São Dimas, o bom ladrão?”

08 Quarta-feira Fev 2012

Posted by marcosmarinho33 in Da Doutrina, Dos Santos e Santas, História da Igreja

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apócrifo, arrependimento, calvário, crucificação, dimas, evangelho, história, ladrão, nicodemos, santo, são

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‎”Foi Sempre privilégio da Igreja, Vencer quando é ferida, Progredir quando é abandonada, e Crescer em ciência quando é atacada.” (Santo Hilario de Potiers, Dr. da Igreja).

‎"Foi Sempre privilégio da Igreja, Vencer quando é ferida, Progredir quando é abandonada, e Crescer em ciência quando é atacada." (Santo Hilario de Potiers, Dr. da Igreja).

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