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Category Archives: Da Doutrina

Método de ensino dos protestantes condenado pelo de Jesus Cristo e dos Apóstolos

14 Quarta-feira Ago 2013

Posted by marcosmarinho33 in Da Doutrina, História da Igreja

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doutrina, fé, igreja primitiva, Reforma Protestante, Sagradas Escrituras, Sucessão Apostólica, Tradição da Igreja

‘Nós temos falado dos autores inspirados do Novo Testamento e de todos os seus escritos . A Igreja católica venera em extremo a revelação escrita, mas a completa pela tradição e interpretação de seu tribunal infalível. O protestantismo rejeita a tradição e até alguns dos livros santos. Os que ele admite considera-os como formando um código completo e tão claro que todos os fiéis ali podem achar, por si mesmos, o objeto de sua fé e a regra do seu proceder. Este princípio exprime-o a Reforma por estas palavras tão conhecidas: A Bíblia e nada mais que a Bíblia. Seguir-se-ia que, no pensar de Jesus Cristo e dos Apóstolos, a Escritura seria a única norma da fé e a única coisa importante e necessária nesta matéria. Mas nada é mais oposto ao seu procedimento e ao seu ensino do que esta falsa e absurda suposição. Jesus Cristo fala, prega, transmite a verdade de viva voz, mas nada escreve; nenhumas letras escritas por seu punho lega à sua Igreja. Diz muitas vezes aos seus discípulos: “Ensinai, pregai”; mas nunca disse: Escrevei. Os Apóstolos fazem como o seu divino Mestre: percorrem a Judeia, oram, pregam e nada escrevem; espalham-se pelo universo sem ter pensado em redigir esse código tão necessário aos homens e que devia bastar-lhes. Discorrem pelas cidades, províncias e reinos, e nem sequer pensam em instruir por meio da escritura. Um texto e nada mais, eis o que exige o livre exame protestante. Doze doutores e nenhum livro, eis o espetáculo que apresenta a Igreja cristã ao sair das mãos do seu Fundador. Falta, pois, nesse berço da religião nova, a própria matéria do exame, que é a Escritura. Finalmente os Apóstolos escrevem; mas de doze somente dois deixaram Evangelhos; e, ainda assim, não de seu modo próprio, senão obrigados por circunstâncias locais e particulares. S. Mateus escreveu a instâncias dos judeus convertidos na Palestina. S. João era quase centenário e morreria sem nada escrever se os fiéis da Ásia Menor lho não pedissem. O chefe da Igreja e o grande Apóstolo das gentes não deixaram Evangelhos. “Os ouvintes de S. Pedro em Roma, diz-nos Eusébio seguindo o testemunho de Clemente de Alexandria, rogaram a Marcos, seu discípulo, que escrevesse o que o Apóstolo lhes dizia a respeito de Jesus Cristo, e Marcos assim o fez.” S. Lucas escreveu do mesmo modo o que tinha sabido de S. Paulo.

O grande Apóstolo nunca escrevia quando fundava alguma Igreja e enquanto lá se demorava. Depois de partir, escrevia algumas vezes, mas sempre por motivos particulares. Se alguns falsos doutores invadem uma Igreja, escreve para os designar. Se lhe enviam esmolas, escreve agradecendo. Se sabe de algum escândalo, repreende  e adverte. Se lhe anunciam que tudo corre bem, incita e fortifica. Se lhe é noticiada alguma calamidade, anima e consola. Se vem consultá-lo um enviado de uma Igreja, de um simples fiel, ele dá ao enviado uma carta, em que responde, etc. “Dos escritos apostólicos, uns, diz um sábio prelado, são históricos, outros tem por objeto principal questões particulares; todos são marcados com um caráter prático e moral. Até mesmo em nenhum se nota a ideia de apresentar o sumário ou conjunto da fé, e todos foram dirigidos a Igrejas já existentes.” Vê-se que cada um dos Apóstolos escrevia não como quem compõe um livro, mas como quem se dirige a amigos e irmãos, cuja memória e tradição supriam as faltas.¹

É, pois, fora de dúvida, que Jesus Cristo estabeleceu na sua Igreja um ensino de viva voz e por tradição; mas em parte alguma se nota que estabelecesse um ensino pela Escritura, e ainda menos pela Escritura exclusivamente. “Cristo, diz S. João Crisóstomo, não deixou um só escrito aos seus Apóstolos.” Em lugar de livros, prometeu-lhes o Espírito Santo dizendo: “Ele vos inspirará o que haveis de ensinar”, o que levava Santo Agostinho a dizer também: “Nós somos os vossos livros”. É por isso que as pretensões dos hereges, nesse ponto, são tão insustentáveis que até foram rebatidas por apóstolos da reforma. Ochin, um dos mais célebres apóstatas que apareceram  no começo do protestantismo, tinha dito: “As Escrituras sagradas são claríssimas e encerram tudo quanto é necessário à salvação”; mas Calvino e Beze refutaram este absurdo do ex-franciscano feito protestante e corruptor. “Eles consideram como uma louca temeridade afirmar que não se precisa de doutores, porque basta a leitura da Escritura.”² Sobre esta questão fundamental, é de tal evidência a verdade que ela salta aos olhos até de seus mais fidagais inimigos.’

¹ Rohrbacher, Hist. da Igreja, t.II

²Discus. amig., t.I. – Mgr. Ginoulhiac, Hist. do dog., t. I, Introd.

 

(Trecho extraído do Capítulo I de Pe. RIVAUX. Tratado de História Eclesiástica. Brasília: Pinus, 2011.)

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Sermão do Fr. Bento da Trindade para o dia das quarenta horas, séc. XVIII

12 Segunda-feira Ago 2013

Posted by marcosmarinho33 in Da Doutrina, História da Igreja

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Bahia, Colonização, evangelização, história, História de Portugal, História do Brasil, Homilia, Pregação, Quaresma, Religião na Colônia, século XVIII, Sermão, Universidade de Coimbra

Este sermão foi transcrito do documento original disponibilizado digitalmente no sítio do Arquivo da Torre do Tombo, sob o código PT/TT/RMC/B-E/001/6354. Inclui despacho da Mesa para imprimir e voltar a conferir de 19 de Julho de 1784, mas não se sabe ao certo qual é a data exata do Sermão, mas somente que foi durante o século XVIII e que foi pregado na Catedral da Bahia. Segue a transcrição:

 

Sermão do primeiro dia de quarenta horas, pregado na Sé da Bahia pelo Padre Mestre Doutor Frei Bento da Trindade, Opositor às Cadeiras de Teologia da Universidade de Coimbra, Qualificador do Santo Ofício, e Examinador das três Ordens Militares.

Non in comissationibus et ebrietatibus; non in cubilibus et impudicitiis; sed induimini Dominum Iesum Christum. – Não vos entregueis aos exessos de comida, e bebidas; Não aos da impudicícia, e da impureza; mas vesti-vos da graça de Jesus Cristo. I Paul. Ad. Rom. 13, 12.

Antiga Sé da Bahia

Esta era a breve exortação, que São Paulo dirigia aos primeiros fiéis habitadores de Roma. Querendo apartá-los dos excessos, que um desgraçado resto de seu abjurado gentilismo deixava entrever ainda nos seus costumes, o Apóstolo lhes lembrava as novas obrigações da sua vocação ao Evangelho, a sublime santidade do Cristianismo que haviam abraçado, e a grande incompatibilidade de suas desordens com a sua profissão. Persuadiam-lhes vivamente a frugalidade nas suas mesas, a isenção de todas as ações de impureza, e de todos os espetáculos, e divertimentos semelhantes aos dos Gentios. Renunciai, dizia ele, todas as obras das trevas[1], e vesti armas de Luz. A noite de vossas superstições, e impiedades é passada[2] na renúncia solene, que fizestes no Batismo, do mundo, e de suas pompas. Um dia mais luminoso, e mais sereno se seguiu às vossas antigas trevas. Outras festas mais augustas, outros prazeres mais doces, outra alegria mais sólida, outra mesa mais deliciosa, mais Santa, mais Divina, deve interessar vossos cuidados. Não são já os divertimentos profanos, e gentílicos, que devem recrear o vosso espírito, não os indignos excessos de comidas, e bebidas, não as ações vergonhosas da impudicícia, e da Luxúria; mas os inocentes prazeres da virtude, as doçuras verdadeiras da graça de Jesus Cristo, e as delícias inefáveis de sua sagrada Mesa. Non in comissationibus et ebrietatibus; non in cubilibus et impudicitiis; sed induimini Dominum Iesum Christum.

            Mas se uns erros, ou abusos escapados talvez mais à ignorância do que à malícia daqueles primeiros Fiéis, excitavam tão vivamente o zelo do Santo Apóstolo; que seria se ele ivesse observado a dissolução dos nossos divertimentos? Qual seria o seu horror, e o seu espanto, se ele tivesse visto nesta terra os excessos praticados nestes dias? Que diria, se tivesse visto o Cristianismo expirante, e quase abolido entre nós? A modéstia e a decência proscritas, e o sexo antes depositário do pudor, rompendo todos os diques da retenção, e do recato? Que diria, se ele tivesse visto os sexos confundidos, encobrindo em seus rostos a imagem, e semelhança de Deus, para tomar as Liberdades da mais impudente idolatria? O demônio atraindo a seu partido quase toda uma Cidade, que se atribui a qualidade de Cristã? Usurpando ao Altíssimo as adorações devidas; e opondo à Santa quarentena do jejum, e penitência, que vai a principiar, outra quarentena ímpia, que acaba[3], de abominações, e de escânda-los? Que diria, (?)sena-solenidade deste Tríduo, que nos devia dispor para entrarmos dignamente nos dias de salvação, ele visse os nossos Templos desertos, as santas solenidades sem concurso, Jesus Cristo abandonado, e quase solitário no Divino Sacramento, sem que a sua presença contenha tantas desordens, ou acabo de atrair tantos desgraçados desertores de sua Mesa, e do seu Templo? Que diria… mas eu me encho de horror, e não me atrevo mais a introduzir a S. Paulo no meio de uma dissolução tão excessiva. Que diria pois, eu não digo já o Santo Apóstolo, mas um gentio, um infiel, um estrangeiro à vista disto? Que? São pois estes, diria ele, os divertimentos de um Povo, que se preza de Cristão? E que diz ser a nação especializada de Deus, Povo de escolha, e de benção, gente Santa? Genus electum, populus in acquisitionem, gens santa[4]? É este aquele Povo, que nos chama infiéis? Que Insulta os nossos ritos, costumes, e nos exagera a sua probidade, a sua ética, e as suas virtudes em preferência aos mais Povos? É este, enfim, o Poo que adora a um Deus crucificado, que crê a sua presença no Sacramento do Altar, e que diz que o recebe nas espécies de pão? E que? Deixa ele ao Deus a quem adora para se recrear com o demônio, e com o mundo, que renunciou em seu Batismo? Deixa uma Mesa, que confessa ser Divina, e em que recebe o seu Deus, por uma mesa profana? Que contradição tão monstruosa! Que incompatibilidade tã horrível de máximas, costumes! Não, o Sol não ilumina algum Povo mais incoerente e dissoluto. Os climas, e os Países mais agrestes, as Seitas mais bárbares, os Povos mais dissolutos, não excedem a dissolução destes Cristãos; os bosques, e as brenhas mais incultas da Ásia, e da África não produzirão já mais habitadores… Suspendamos, Senhores, estas tristes reflexões, vós vos ofendereis talvez; mas permiti pela glória do Senhor, que vos faça ver neste discurso, todo o Terror de uma desordem tão escandalosa, ultrajante à nossa profissão, e Cristandade. Para isto eu não tenho mais que repetir-nos as palavras do Apóstolo, elas bastaram para converter a meu Padre Santo Agostinho; faça o Céu que elas produzam em algum de nós o mesmo efeito. – Não vos entregueis nestes dias aos criminais excessos da gula, e da impureza – Non in comissationibus et impudicitiis – Mas buscai a graça de Jesus Cristo, que hoje se nos oferece na mesa do Sacramento – sed induimini Dominum Iesum Christum – Eis aqui pois o meu assunto: A preferência infinita e incomparável das delícias da graça de JESUS Cristo no Divino Sacramento, sobre os falsos prazeres que o mundo nos oferece nestes dias. – Exurge in adjutorium meum Domine Deus salutis mea.       (?)princípio.

Inimigo cruel das nossas almas, cujo nome odioso não merece proferir-se, soberbo, (?)pretendido rival da glória do Onipotente,  tu tens triunfado enfim nestes dias desgraçados. Eis aí uma bem grande colheita, que nós tivemos a desgraça de por nas tuas mãos. Os quarenta dias passados de desordem te compensam largamente dos golpes que se te preparavam nos quarenta dias futuros da nossa reconciliação e penitência. Demos-te enfim tantos dias para exercitares sobre nós a tua escravidão, quantos a Igreja nos pede para nos pede para nos poder livrar dela. Tiveste enfim teu tempo. Recebemos de ti as Leis que ti nos quiseste impor. Entregamo-nos à tua descrição. Tens sido enfim bem obedecido, bem servido. Legislaste, venceste, triunfaste.

A Bahia (por que enfim, ó meu Deus, para que dissimular uma verdade, injuriosa sim e humilhante; mas que tem sido tão escandalosa, e tão notória?), a Bahia se deixou abandonar aos maiores excessos. A prostituída impudente de que fala o Evangelista Profeta no seu Apocalipse[5] fingindo abrir seu rosto, se mostrou mais descarada, e fez beber o veneno da taça dourada, que traz nas suas mãos, os desgraçados cúmplices da sua impudicícia: A desenvolta Babilônia parece que quis encher a medida de seus crimes: O Israel do Senhor adotou todas as abominações da Samaria, e dos desses estrangeiros Toda a Carne parece ter corrompido seus caminhos[6]. A abominação anunciada no Evangelho[7] quase se quis elevar no Lugar Santo. Saiu da Filha de Sião todo o seu Lustre[8]. Viram seus inimigos a sua ignomínia, e o seu opróbrio, e fizeram zombaria de suas solenidades[9]. Falemos sem figura Senhores, e tiremos de uma vez a máscara à desenvoltura , e à impiedade. Abandonou-de o Povo aos maiores excessos da Liberdade, e da desordem. Rompeu a Libertinagem quase todos os obstáculos da modéstia e da virtude. Desprezaram-se não só as Leis do Evangelho, mas as da probidade, e da decência. Tudo tem sido tolerado nests dias. Chegaram as Cerimônias da Igreja a dar assunto a espetáculos ridículos. Viram-se os Templos desertos nos dias de suas festas enquanto a extensão de seus átrios apenas podia abranger a multidão de concorrentes de um e outro sexo. Viu-se (Ó meu Deus, e poderei eu dizê-lo sem cobrir de confusão estas sagradas paredes?), viu passar com pompa, e solenidade o Divino Sacramento[10] entre as extensas alas de expectadores mascarados, e de mulheres manifestas em traje de outro sexo sem disfarçarem o próprio.

Inaudito excesso de irreligião, e impiedade, tu não eras ainda conhecido entre nós. Os séculos precedentes ignoraram totalmente este novo modo de insultar a presença real de Jesus Cristo no Divino Sacramento. No seio da Cristandade não se havia observado um semelhante espetáculo. Nossos Pais não tinham visto o Corpo de Jesus risto rodeado de adoradores com uma máscara ridícula no rosto. Esta nova impiedade estava só reservada para comparecer em nossos dias. E vós, adorado Redentor, vós não haveis talvez sofrido ainda nesse Divino Sacramento um ultraje semelhante. Na vossa Pão tínheis tolerado, é verdade, aos algozes, que vos cobriam o rosto[11], para vos oferecer adorações irrisórias; mas hoje por uma contradição não menos ímpia os mesmos que vos adoram com outra igual reverência cobrem ridiculamente o seu rosto, e tem o sacrílego arrojo de comparecer desta sorte, não só diante de vós, mas ainda junto a vós. Céus, como pudestes sofrer um semelhante atentado? Astro brilhante do dia, como não escondeste então as tuas Luzes!

Mas não Senhores, não espereis aqui de mim,  que eu levante a minha voz para clamar altamente contra este horrível desacato. Eu me não sinto com forças. A minha vos desfaleceu. O sangue se me gela nas veias, e euonfesso Senhores, que me envergonho, e contundo de vos recordar aqui verdades tão odiosas. Ocultemos antes esta nossa ignomínia em um eterno Silêncio. Não saibam os infiéis estas tristes anedotas, e este humilhante opróbrio da nossa Religião e Cristandade. Mas de que vale ocultar uma verdade tão notória? E por mais que quardemos silêncio nestes criminais abusos, não grita o escândalo mais do que todas as nossas invectivas? Que? Podemos nós dissimular a nossa dor vendo ao Divino Sacramento ultrajado deste modo? Podemos ver sem horror os nossos Templos desertos na hora dos Sacrifícios, enquanto as ruas, e praças se acham tão cheias de ociosos de um, e de outro sexo? Podemos ver tanta repugnância, e dispersão nesta solenidade augusta, e tanto gosto e concurso na ociosidade, nos divertimentos, nas danças? E que danças, ó Deus meu! Podia o inferno exalar tanta infecção entre nós? O demônio com todos os seus artifícios poderia descobrir um meio mais eficaz para inspirar todas as abominações da impudicícia, e para banir de entre nós todo o resto da decência, e do pudor? Poderia jamais esperar-se que chegasse a este ponto a Liberdade do sexo tímido, covarde, piedoso? Ao mesmo tempo este é o sexo mesmo, que (?)afeta nesta terra envergonhar-se de ir de dia aos nossos Templos, e de comparecer nas Santas solenidades da Igreja. E que Senhores! Tanto pejo para buscarem a Deus no seu Templo, e tanta dissolução e Liberdade em se manifestarem em público em semelhantes espetáculos!

Da Madalena, diz engenhosamente meu Padre Santo Agostinho, que soube buscar a salvação em Jesus Cristo com uma Santa impudência[12] – quaesivit pia impudentia sanitatem – Por mais que a sua qualidade e o seu sexo parecesse condenar a piedosa Liberdade de sair só de sua Cara aos olhos de toda a Jerusalém para ir buscar ao Salvador na Casa do Fariseu; por mais que a ocasião de um convite parecesse intempestiva, e os assistentes malignos nos seus juízos; esta Santa pecadora não repara em coisa alguma, sufoca o seu pejo natural, e se eleva sobre os sentimentos vulgares, para procurar santamente resoluta a sua salvação e o seu remédio – quasivit pia impudentia sanitatem. – Hoje porém as pessoas do seu sexo, nesta terra, por uma contradição bárbara, ridícula, extravagante sufocam o justo pejo que lhes deviam inspirar as indecentes liberdades, e se envergonham impiamente de ir de dia aos nossos Templos. Mais diligentes, Deus meu, para comparece nos anti-Cristãos divertimentos, que nas santas solenidades da vossa Igreja. Mais sensíveis aos insípidos prazeres dos sentidos do que aos doces atrativos da vossaamável presença. Mais interessadas enfim nos excessos da gula e intemperança de suas mesas do que nas delícias inefáveis da mesa da Eucaristia.

Ah Senhor, quando vós instituístes este Divino Sacramento, o compêndio de todas as maravilhas do vosso amor, esperáveis vós experimentar tanto fastio, repugnância nos vossos Filhos para vos assistirem e receberem neste sagrado banquete? Esperáveis achar-vos abandonado no vosso Trono desconhecido, e rejeitado por aqueles mesmos por cujo amor obrastes tantos excessos? Esperáveis ver-nos entregues nestes dias aos excessos da gula, e da intemperança, enquanto vós nos ofereceis nesse adorável Sacramento a vossa Carne, o vosso Sangue, para nos nutrir docemente? E são, contudo, estes os vossos Filhos, o vosso Povo fiel, a vossa amada Conquista! – Haeccine redis Domine popule stulte et insipiens[13] – É pois assim que tu correspondes ao teu Deus, povo ingrato e insensato? Assim lhe pagas a fineza de te buscar, de te assistir, de te nutrir, de te amar com tanto excesso no Divino Sacramento? Ah! Um Deus exposto, e manifesto às vossas adorações não vos merece mais amor, mais atenção? Podestes dar ao mundo os quarenta dias passados, e não podeis dar ao Senhor quarenta horas de culto neste tríduo. A sua real presença não vale acaso o sacrifício de três dias de recolhimento, e de abstinência? Não tem a sua presença, e a sua graça alguns atrativos para vós? O seu sagrado banquete não excitará em vos mais do que náusea, e fastio?

Ide pois, Cristãos ingratos, esconder longe da presença do Senhor a vossa ingratidão. Ide preencher a medida dos vossos crimes. Ide acrescentar mais estes três dias aos quarenta passados da vossa dissolução. Ide alegrar-vos tristemente nesses recreios pagãos; mas levai convosco aquela terrível sentença do Senhor – ai de vós os que vos alegrais agora, tristemente à despesas da virtude; porque chorareis deveras algum dia – vae vobis, qui ridetis nunc: quia lugebitis[14] – Vinde vós na fala destes ingratos, ó verdadeiros Cristãos, vinde gozar aqui da presença do Senhor, e saciar-vos das torrentes de delícias da sua Divina mesa. Vinde desagravar a Jesus Cristo dos insultos que recebe dos ímpios neste tríduo, e dar-lhe um claro testemunho da vossa Fé, e do vosso amor. Vós aqui achareis no sagrado banquete outros prazeres mais sólidos, outro alimento mais doce, outras delícias mais puras, mais confortantes, do que o mundo pode dar-vos. Que vantagem para vós ser convidados à mesa do Bom Senhor com preferência a tantos outros! Que felicidade, gozar da sua presença, entrar em sua amizade, e recebê-lo nos vossos corações.

Ah quanto vós sois venturosos, dizia antigamente Moisés ao povo de Israel, quanto vós sois venturosos na proteção do Senhor que vos assiste no Tabernáculo? Quanto sois privilegiados entre todas as Nações do Universo nos benefícios e prodígios com que vos especializa e favorece! Considerai todos os Povos da terra, e vede se há algum tão favorecido de Deus, que tenha umas cerimônias tão augustas umas festas tão Divinas, e umas Leis tão adoráveis, e tão Santas, como as que eu hoje vos proponho – quae est alia gens sic ínclita, quae habeat ceremonias iustaque iudicia, et Legem, quam ego propono hodie?[15]  Como querendo dizer-lhes: Vós acabais de sair dos ferros do Faraó e de seu jugo duríssimo. O Senhor vos libertou com mil prodígios na força vitoriosa de seu braço. Ele iluminou o vosso especializado continente enquanto sepultou ao resto do Egito em escuríssimas trevas. Tem-vos conduzido sempre como pela mão no deserto: precede a vossa marcha na coluna viajante. Nutre-vos de um pão celestial e de uma água milagrosa: assiste-vos no Tabernáculo; protege as vossas Tribos no asilo da Arca Santa: está no meio de vês, e se faz singularmente o vosso Condutor, a vossa proteção, o vosso Deus. Comparai o vosso estado presente com o que a pouco deixastes, e reconhecei a preferência destes dias luminosos sobre os tempos obscuros da vossa escravidão. Comparai os ritos abomináveis dos Egípcios com as nossas Cerimônias; as suas festas impuras com as nossas Solenidades; as suas viandas insípidas com as delícias do maná; as suas horríveis divindades como Deus dos nossos Pais, e reconhecendo a preferência infinita desta felicidade sobre aquela desgraça, vede se há um toda a terra algum povo tão feliz, alguma religião tão Santa, algumas Leus, ou Cerimônias tão augustas como as que hoje contemplai – quae est alia gens sic ínclita, ut habeat ceremonias.

Augusto Legislador, Profeta Santo, extendei as vossas vistas até nós. Entrai hoje nos nossos Templos, observai os nossos mistérios, e reconhecei a incomparável preferência dos Cristãos sobre o Povo de Israel nas augustas cerimônias de nossa solenidade, nas Leis, e nos benefícios de Deus. Aparecei hoje aqui, e vós vereis ao Senhor executar aqui mais prodígios de amor no breve espaço de quarenta horas do que praticou antigamente nos quarenta dias que vos demorou sobre o monte; nos quarenta anos que conduziu a Israel pelo deserto, e mesmo nos quarenta séculos, que precederam a instituição daquele adorável Sacramento. Vos não achareis aqui já o Tabernáculo portátil, a Arca da Aliança, a nuvem caliginosa, o maná figurativo; mas achareis com infinita vantagem o espírito de significação dessas antigas figuras. Não achareis ao Deus majestoso de Sinai que faz-se conhecer sua presença ao povo aterrado com os raios e trovões, que fazem tremer o monte, ou com o fogo subterrâneo em que abrasa aos ímpios. Mas achareis a um Deus todo amor, todo doçura, que se faz pessoalmente presente às nossas adorações, que se mostra sem terror, que se familiariza sem reserva, e se dá sem distinção aos que o querem receber: um Deus, que nos nutre de sua Carne e de seu sangue, que entra nos nossos Corações, que se une intimamente a nós mesmos, que nos ama como Pai, que nos honra com a qualidade de seus Filhos, que nos comunica os seus dons, e a sua mesma Divindade. Um Deus que vem pessoalmente livrar-nos da nossa escravidão, que ilumina ele mesmo as nossas trevas, e acha as suas delícias em assistir entre nós. Ah! Que prodígio de amor e de Bondade! Verdadeiramente que não há alguma nação tão feliz, e gloriosa, que tenha suas divindades tão unidas a si como se une a nós o nosso Deus. – Non est alia natio tam grandis, quae habeat deos appropinquantes sibi, sicut Deus noster adest[16].

Não invejeis pois, Cristãos a felicidade do antigo Povo a quem o Senhor nutriu de Maná no deserto, nem a dos antigos Patriarcas, e Profetas a quem o Senhor comunicou mais abundantemente as suas luzes. Não invejeis o privilégio de Jacó, que o teve em seus braços[17], o de Moisés que o comunicou sobre o Monte[18]. Vós aqui gozareis outra familiaridade, outra doçura, outra abundância de graças incomparavelmente maiores. Não só comunicareis ao Senhor como Moisés, não só o tocareis como Jacó; mas o recebereis dentro de vós, e vos unireis intimamente a ele. – Ecce tibi conceditur non solum videre, et tangere, sed intra te sumere[19].

Atual Catedral Basílica de Salvador. Créditos: Osman Said, Flickr.

 

Buscai pois ao Senhor em quanto o podeis achar. Ah! Nestes dias desgraçados em que todos o abandonam, e em que o demônio lhe disputa tantas almas: quando os ímpios multiplicam contra ele os seus ultrajes então é que lhe devemos especiais homenagens, e serviços. Demos pois ao Senhor um testemunho manifesto de nossa fidelidade, isto é o mesmo JESUS Cristo que parece convidar-nos como em outro tempo a seus Discípulos; eis-me aqui reduzido só a vossa companhia, e assistência, dizia ele, esta é toda a porção de assistentes que me resta de um povo tão numeroso. Todos os mais me abandonaram, e se apartaram de mim, por ventura quereis vós também seguir o seu mau exemplo, e deixar-me como eles? – Nunquid et vos vultis abire?[20]

Povo Cristão, eis aqui pois os tristes dias em que o vosso Bom Senhor se acha quase só e abandonado de toda esta Cidade: ele se acha presente naquele adorável Sacramento só com uma pequena porção de assistentes; mas sereis vós tão desgraçados, que o queirais também deixar, e tomar o partido do mundo, e do demônio contra ele? – nunquid et vos vultis abire? – Oh! E que feliz ocasião de vos distinguir diante do vosso Deus, e de merecer a sua graça, e as suas recompensas! Que merecimento, e que glória para nós o consagrar estes três dias no desagravar por nossa fidelidade, e assistência da perfídia ingratidão dos maus Cristãos? Com que doce complacência nos veria Jesus Cristo entregues à Oração, e à Lição de um livro devoto nestas noites desgraçadas que tantos empregam em o ofender? Que espetáculo tão agrdável aos olhos do Senhor se algum dos que me ouvem se quisesse resolver a confessar-se e comungar, e prevenir o Santo tempo da quaresma com uma antecipada penitência!

Meu Deus do meu Coração, e que pouco é o que vós hoje me pedis em comparação do muito que vos devo? Que curto espaço é o de três dias de exercícios Cristãos em comparação de uma eternidade de glória que vós me prometeis se os aproveito bem, ou uma eternidade de tormentos a que me vou arriscar se os perder? Que vem a ser quarenta horasde recolhimento, e de oração por mais de quarenta anos que tenho passado em ofender-vos? Ah Senhor! Que [x] possa eu eternizar este breve espaço de tempo para o empregar todo em vos assistir, em vos servir, em vos amar. Eu vou pois, Senhor aproveitar esta comutação tão vantajosa; eu me sacrifico todo ao vosso serviço e ao vosso amor nestes dias, para que vós me compenseis com abundância de graça, com eternidade de glória.

Assim seja.


[1] Ad Rom. 13. 12.

[2] Ibd.

[3] Tinham acabado no dia antecedente, quarenta dias de máscaras.

[4] Ep. I. Petr. 2. 9.

[5] Apoc. 17. 2.

[6] Genes. 6. 12.

[7] Math. 24. 15

[8] Tenum. Thren. 1. 6. (?)

[9] Ibi. 7.

[10] Na procissão do Santíssimo Sacramento da Vitória

[11] Marc.14 65.

[12] I. Aug. Lib. 50. Nom. 23.

[13] Deuter. 32. 6.

[14] Luc. 6. 25.

[15] Deuter. 4. 8

[16] Deuter. 4. 7.

[17] Genes. 32. 26.

[18] Exod. 20.

[19] S. Ioan. Chris. Hom. Ad populum.

[20] Evang. Joan. 6. 8.

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Comentário ao Evangelho do dia feito por São Bento

26 Terça-feira Jun 2012

Posted by marcosmarinho33 in Da Doutrina, Dos Santos e Santas

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comentário ao evangelho do dia, doutrina, entrai pela porta estreita.mandamentos, fidelidade, monge, núrsia, padres da Igreja, rigor, são bento, severidade

Comentário ao Evangelho do dia feito por 
São Bento (480-547), monge, co-padroeiro da Europa
Regra, Prólogo
«Entrai pela porta estreita»

Ao procurar no meio da multidão um trabalhador ao qual lance o Seu convite, o Senhor diz: «Quem quer a vida e deseja conhecer dias felizes?» (Sl 33,13) Se, ao ouvires isto responderes: «Eu!», Deus diz-te: «Se queres ter a vida, a verdadeira vida eterna, protege a tua língua do mal, e que os teus lábios não digam palavras enganadoras. Afasta-te do mal e faz o bem, procura a paz e persegue-a» (Sl 33,14-15). […] Não há para nós, irmãos muito queridos, coisa tão doce como esta voz do Senhor que nos convida. Eis que, na Sua bondade, o Senhor nos indica o caminho da vida. Tendo, pois, cingido os nosso rins (Ef 6,14) da fé e da prática de boas obras, sob a direcção do Evangelho, avancemos nos Seus caminhos, para merecermos ver Aquele que nos chamou ao Seu Reino (1Tess 2,12). Se queremos habitar nas tendas deste Reino, a menos que nelas entremos pelas boas obras, não chegaremos lá de outra forma. Com o profeta, interroguemos o Senhor e digamos-Lhe: «Senhor, quem habitará na Vossa tenda? Quem repousará na Vossa montanha santa?» (Sl 14,1) Depois desta pergunta, irmãos, escutemos o Senhor a responder-nos, mostrando-nos o caminho. […]

Vamos, portanto, estabelecer uma escola de serviço do Senhor, onde esperamos não estabelecer nada de rigoroso, nada de esmagador. Mas, se te aparecer alguma coisa um pouco mais severa, exigida por uma razão de justiça com vista à correcção dos vícios e à manutenção da caridade, não abandones imediatamente, tocado pelo medo, o caminho da salvação, onde temos de passar pela porta estreita. Para além do mais, graças aos progressos da vida e da fé, de coração dilatado na inefável doçura do amor, corremos na via dos mandamentos de Deus (Sl 118,32). Assim, não nos afastando nunca dos Seus ensinamentos e perseverando na Sua doutrina […] até à morte, participaremos pela paciência nos sofrimentos de Cristo (1Pe 4,13), para merecermos participar também no Seu Reino.

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A Missa no celeiro

26 Terça-feira Jun 2012

Posted by marcosmarinho33 in Da Doutrina, Da Liturgia, Da Santa Igreja

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“No vilarejo de Dardilly, a Revolução [Francesa] passou quase despercebida. Um sacerdote ‘juramentado’ substituíra o venerado cura da paróquia, que se retratara da sua vergonhosa promessa depois de ter prestado o juramento [houve uma lei que obrigava todos os sacerdotes a prestarem juramento à nova Constituição, que subordinava totalmente a Igreja da França ao Estado. Mais da metade do clero recusou-se a prestar esse juramento;com isso, abriu-se uma profunda divisão entre ‘juramentados’ e ‘não-juramentados’]. Mas os Vianney não suspeitavam de que o novo pároco fosse um herege, até que o seu linguajar, mais político do que edificante, acabou por abrir-lhes os olhos. Pouco a pouco os fiéis foram abandonando a velha igreja. Começava a perseguição.

“Os camponeses acobertavam os sacerdotes proscritos. Davam-lhes um esconderijo, um disfarce e um pouco de alimento. Reuniam-se secretamente aos domingos, durante a noite; o caminho, às vezes, era longo. Um celeiro servia de igreja; um cocho, de altar; Cuidavam de não rezar em voz alta. O sacerdote expunha-se ao cadafalso; os fiéis às galés. Valia a pena ser cristão naquele tempo.”

Trecho do livro “O Cura d’Ars”, de Henri Ghéon.

São João Maria Vianney, o cura de Ars, viveu durante a Revolução Francesa. No trecho que tirei do livro de Henri Ghéon, podemos ver até que ponto aqueles cristãos fervorosos se arriscavam para poderem assistir à Santa Missa. Havia a opção de assistir a Missa com um sermão herético, mas isso não era opção para eles. Tinham Deus como prioridade. Sabiam colocar as coisas em seu devido lugar, e conheciam o valor da Missa para arriscar tudo por ela. E olha que a liturgia ainda era a da Missa de Sempre.

Muitas coisas aconteceram desde então. Hoje, não só temos que tomar cuidado com as doutrinas de certos sacerdotes por aí, como também temos que observar todos os aspectos da liturgia, o “depósito da Fé.” Em compensação, se o trabalho é duplo, os fiéis estão duplamente enfraquecidos. Quantos católicos atualmente teriam a coragem daqueles do tempo de São João M. Vianney? Aqueles que arriscavam seu pescoço para assistir à Missa no celeiro? Acho que o comodismo fala mais alto, ao menos para a grande maioria. E aqueles indignavam-se tão somente pelas heresias que chegavam aos seus ouvidos; estes, no entanto, contentam-se em ver fazerem do Calvário de Cristo uma Ceia do Diabo, nas suas mais variadas formas.

Sem querer ter a audácia de comparar-me com São João Vianney e sua piedosa família, mas pelo contrário, agradecendo a Nosso Senhor por ter me concedido conhecer bem a Fé que recebi no Batismo e a Missa em sua forma “extraordinária”, percebo essa semelhança dos católicos “tradicionais” com os contemporâneos deste venerado santo; hoje, precisamos, em muitas dioceses, privar-nos do luxo de poder ir na sua igreja paroquial, tão perto da sua casa, mas como aquelas pessoas, procurar uma Missa dignamente celebrada num lugar remoto da região.

Que temos muitos sacerdotes que não tem respeito pela Santa Missa, disso sabemos. Mas creio que temos mais ainda sacerdotes que têm medo de desagradar à “nova geração moderninha” de fiéis que gostam de uma missa mais animada, sem falar daqueles (me atentei para isso ontem, lendo um artigo sobre os problemas da RCC) que procuram fazer uma evangelização mais preocupada com quantidade do que qualidade, que encha sua Igreja e anime seus paroquianos. Afinal, que padre não quer ver a igreja lotada? Mas vejamos isto por um outro ponto de vista.

Escrevi este texto para ilustrar um pouco a situação daqueles que se dispõem a seguir o exemplo do Cura d’Ars:

“Imagine uma biblioteca. Uma grande biblioteca, bem organizada, com anos de história, silenciosa, própria para um bom estudo. Mesmo assim, está quase sempre vazia. O grupo que a frequenta é muito pequeno; no entanto, faz ótimo uso do material que a biblioteca tem a oferecer. Estudam muito, esforçam-se para aprender o máximo que puderem.

“Porém, um certo dia, aparece um novo bibliotecário. Este impressiona-se por ver uma biblioteca tão boa sendo tão pouco aproveitada. Decide fazer algo a respeito.

“Começa a trazer para a biblioteca, de vez em quando, algumas novidades mais ‘modernas’, tudo que o público jovem gosta: coleções sertanejas, baile do livro, afro-literatura, manuais da língua dos anjos… Logo, atraiu um pouco mais de gente, o que quase compensou o aumento de reclamações por parte daqueles antigos estudantes frequentadores do local devido o barulho e a bagunça que os novos frequentadores faziam. Os bibliotecários respondiam que era necessário algum sacrifício para que conseguissem que mais pessoas conhecessem a Biblioteca e eventualmente começar a estudar.

“Passando o tempo, vendo que aquilo aparentemente funcionava, os bibliotecários passaram a organizar mais novidades na biblioteca, inclusive alguns eventos que chocaram a comunidade, para uma biblioteca tão tradicional.

“O número de frequentadores só aumentava, o de estudantes, nem tanto; mas, mesmo assim, seria um ‘sucesso a longo prazo’. Mas os antigos alunos não se sentiam bem ali. De fato, nem parecia o mesmo lugar. De biblioteca, só tinha o nome no letreiro. O barulho, a sujeira, os livros tratados com desleixo; tudo aquilo os deixava muito tristes.

“Aos poucos, esses antigos frequentadores migraram e organizaram-se em grupos de estudos em casas e outras bibliotecas mais organizadas, embora ficassem em áreas isoladas da cidade.

“O que aconteceu no final? Estes estudantes passaram no Vestibular. Os outros, esqueceram-se de estudar, com tanta festa que tinha. Chegaram no dia do Vestibular e não sabiam nada; foram desclassificados pelo Grande Professor.”

Qualquer semelhança com a realidade NÃO É mera coincidência.

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O último desejo de Santa Mônica

25 Segunda-feira Jun 2012

Posted by marcosmarinho33 in Da Doutrina, Dos Santos e Santas

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almas, altar do senhor, antigamente, óbito, beata, católica, céu, cemitério, confissões, devota, enterro, espólios, falecimento, finados, funeral, graça, inferno, limbo, missa pro defunctis, morte, novíssimos, purgatório, redenção, remissão dos pecados, sacramentos, salvação em cristo, santa mônica, santo agostinho, século XVIII, sociedade brasileira, unção dos enfermos, velório, viático, vida após a morte, vida eterna, virtude teologal da esperança

Em seu leito de morte, disse Santa Mônica a seus filhos, depois de um deles preocupar-se em enterrá-la em sua terra natal:

“‘Enterrai este corpo em qualquer lugar, e não vos preocupeis com ele. Faço-vos apenas um pedido: lembrai-vos de mim no altar do Senhor, seja qual for o lugar onde estiverdes’.

Depois, continua Agostinho:

“[…] acolhe, Senhor, as livres oferendas de meus lábios. Aproximando-se o dia de sua morte, minha mãe não se preocupou em ter seu corpo suntuosamente revestido ou embalsamado com aromas, não desejou ter rico monumento, nem mesmo ter sepultura na própria pátria. Não nos pediu nenhuma dessas coisas, mas desejou somente que nos lembrássemos dela diante de Teu altar, ao qual ela não deixou um só dia de servir, porque sabia que aí se oferece a Vítima santa, pela qual ‘foi destruído o libelo contra nós’, e foi vencido o inimigo, aquele inimigo que conta as nossas faltas e procura com que nos acusar, e nada encontra naquele mediante o qual fomos vencedores.”

(Trechos extraídos das “Confissões” de Santo Agostinho, filho de Santa Mônica, falecida em 387 d.C.)

Não são poucas as vezes em que nos deparamos com a falta de Esperança entre os cristãos. Em minha família, mais de uma vez os vi lamentando a morte como o derradeiro fim; para alguns, realmente é, mas o problema é que, para essas pessoas, isso não se resume àqueles que tem motivos para temer a morte, como os infiéis, e sim para a morte em geral. A maioria das pessoas, ao mesmo tempo que acha que todos vão para o Céu, no fundo reconhece a falha de seu argumento, pois, pelo visto, não tem Esperança nenhuma na Salvação, que é mais uma das consequências da evangelização deficiente: o Sacrifício de Cristo torna-se desconhecido aos próprios cristãos.

Funeral de Santa Fina

Pergunte aos católicos “o que é a Missa?”. Alguns (muitos) vão responder algo que lembrará um culto, uma reunião, no máximo uma Ceia. Se alguém responder Sacrifício, dê graças a Deus, pois isso é raro. Esse desconhecimento já é um problema em si, e uma série de problemas o seguem: os conhecidos abusos litúrgicos, a perca da fé, da esperança de Vida Eterna, e etc. Aqui, quero focar na perda da Esperança.

Esta é uma das virtudes teologais, infusa por Deus em nossa alma, e pela qual temos como certa a ajuda divina para alcançarmos o céu. Subentende-se, então, que isso trará para a alma grande paz em seu leito de morte, assim como o trouxe para Santa Mônica. De fato, diz Agostinho: “Quando seu corpo foi levado, fomos a sepultura, e de lá voltamos sem chorar. Nem mesmo chorei durante as orações, quando oferecemos por ela o sacrifício de nossa redenção, com o corpo já colocado ao lado do túmulo, antes do enterro, segundo era costume do lugar. Nem durante essas preces chorei.” 

Não que haja problema em chorar por um querido falecido; até Cristo chorou por Lázaro. Mas é a incoerência entre a suposta fé de que todos vão pro Céu (afinal, nunca vi ninguém falar: “esse deve ter ido pro Inferno”) e a tristeza como se a pessoa simplesmente tivesse sido deletada da existência. Uma vez cheguei a ouvir: “ah, a gente fica triste porque sabe que nunca mais vai ver a pessoa.”; e tenho certeza de que isso não é porque acreditam que a pessoa foi pro Inferno e esta vai pro Céu ou vice-versa. É a descrença.

Isto contrasta com a antiga (e bota antiga nisso) sociedade brasileira, católica. Quando se pergunta para alguém “o que você faria se fosse morrer amanhã?”, muitos dirão: “faria tudo que tenho direito, coisas que nunca pude, gastaria toda minha grana em diversão, bebida, etc.”, que no fundo não passa de um medo de encarar aquilo que evitou-se pensar na vida inteira, o encontro com Cristo Juiz. Pois esta resposta pareceria, no mínimo, irracional aos nossos antepassados; estes, sabiam receber a morte como uma boa amiga. Eles realmente agradeceriam a Deus quando este lhe mandasse uma doença terminal, pois muito melhor era morrer “de sobreaviso” do que ser pego de surpresa.

Havia mesmo uma certa idade, lá pelos 60 anos, em que as pessoas tornariam-se ainda mais piedosas, mais frequentes aos sacramentos, assíduas diariamente à Santa Missa, preparando-se o melhor que pudessem para o encontro com o Divino Mestre. Nos testamentos, sempre deixavam espólios para a celebração de Missas pedindo por aquela alma depois que morresse. Houve até mesmo um senhor que pediu que se rezasse uma Missa por ele até o dia do Juízo Final.

É perceptível a diferença do modo de encarar a morte entre esses dois “tipos de católicos”. Enquanto uns fingem que serão imortais e vão matando-se lentamente, os outros vêm nela, finalmente, a sua entrada na Vida Eterna.

Um aparatoso cortejo do viático leva os últimos sacramentos ao moribundo com a presença dos irmãos do Santíssimo Sacramento, do pároco, de militares, a banda de música de negros e numerosos acompanhantes.

Não é fácil, para nós, conseguir pensar como eles. Nossa sociedade não ajuda nem um pouco. Em primeiro lugar, quando estava próxima da morte, a pessoa prepararia-se bem para ela. Em segundo, quando fosse receber o Santo Viático (porque ninguém ia querer morrer sem recebê-lo), ele viria numa procissão digna e majestosa, e todos que passassem pela procissão, teriam que acompanhá-la, rezando pela alma daquele que padece. E, ainda, em terceiro lugar, o falecido seria realmente velado, em vigília de oração, tanto pelos parentes, quanto por vizinhos e até mesmo desconhecidos. Isto era normal: quando se visse um velório, entrar na casa e participar das orações. Ademais, os sinos das igrejas tratariam de avisar a todos. Quem não pudesse comparecer, rezaria por ele.

Outra coisa interessante é o Dia de Finados. É quase como se as pessoas de hoje quisessem fingir que nada aconteceu, que “não é tão importante”. Quando fui visitar meus parentes falecidos, alguns desoportunamente comentavam sobre o tijolo do túmulo, ou o galho da árvore. Rezavam um pai-nosso e uma ave-maria (se muito), e iam embora, como se tivessem visto menos que um cachorro morto. Claro que estou exagerando, e sei que o sentimento de tristeza com certeza era grande, mas visitar um túmulo não adianta muita coisa se não for para rezar! Tem até aqueles que vão num dia antes ou num dia depois, pra não pegar o cemitério muito cheio. Imagina se essas almas terão quem aplique indulgências para elas…

Eu, somente graças ao bom Deus, não tenho medo de morrer. As pessoas o têm mais frequentemente do que querem admitir; basta observar como lidam com a morte. Mas, pelas virtudes que nos infunde o Espírito Santo, temos a Esperança, que nos faz poder dizer como São Paulo “viver para mim é Cristo, e morrer para mim é ganho”.

Rezemos muito, e façamos todos os dias o Ato de Fé, de Esperança e de Caridade, que não sejam meras palavras, mas que sejam verdadeiras expressões do íntimo do coração, pedindo ao Espírito Santo que nos conserve sempre a buscar os bens celestiais. Ah, e é claro, rezemos pelas almas do purgatório, pedindo que se ofereçam Missas por elas.

Meu Deus, espero com firme confiança, que me concederás, pelo mérito de Jesus Cristo, tua graça neste mundo e a felicidade eterna no outro, porque assim o prometeste e sempre és fiel a tuas promessas.

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Aprovar o aborto seria um retrocesso na nossa sociedade (Parte II)

25 Segunda-feira Jun 2012

Posted by marcosmarinho33 in Da Doutrina

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aborto, aprovação, bioética, controle de natalidade, crescimento demográfico, feminismo, hospitais, interrupção da gravidez, retrocesso, saúde pública, teoria malthusiana, vida

Entrevista com especialista em bioética, Pe. Helio Luciano

Por Thácio Siqueira

BRASILIA, sexta-feira, 22 de junho de 2012 (ZENIT.org) – Ontem publicamos a primeira parte da entrevista que o Pe. Helio concedeu a ZENIT com o fim de ajudar os católicos do Brasil a refletirem sobre o tema do Aborto, que está em pauta para aprovação no nosso país.

Clique aqui para acessar a primeira parte.

O Pe. Helio Luciano é mestre em bioética pela Universidade de Navarra, mestre em Teologia Moral pela Pontificia Universidade Santa Cruz em Roma e membro da comissão de bioética da CNBB.

Publicamos hoje a segunda e última parte da entrevista.

***

ZENIT: O embrião é uma pessoa humana? O que é que comprova isso? E por que ele teria todos os direitos fundamentais de um ser humano, incluindo o direito à vida?

PE. HELIO: A resposta que dou a esta pergunta, que frequentemente se repete, é sempre a mesma: não importa se o embrião é pessoa humana ou não. À primeira vista tal resposta pode parecer polêmica ou até agressiva – mas asseguro que esta não é a minha intenção. A questão é que “ser pessoa” ou “não ser pessoa” é um problema filosófico e jamais poderá ser provado em âmbito científico-positivo. Mas a discussão em relação ao aborto não é uma questão de filosofia, mas de biologia básica.

O que temos, desde a fecundação, independente se é pessoa ou não, é um novo ser humano. Como já dizíamos – temos um novo indivíduo da espécie homo sapiens sapiens, com um DNA único e irrepetível em toda a história da humanidade. Sendo um ser vivo da espécie humana, tem todo o direito de ser respeitado como qualquer outro ser humano. Nas aproximadamente quarenta semanas em que este novo ser humano costuma permanecer dentro do ventre materno, não existe nenhum salto quantitativo ou qualitativo que possa dizer que tenha sofrido uma mudança substancial. Todas as capacidades humanas adquiridas por aquele novo ser, têm como base aquele momento inicial – ou seja, aquela única célula fecundada, que já era um ser humano.

A maioria dos defensores do aborto, hoje, costuma admitir as evidências científicas que comprovam que a partir da fecundação temos um novo ser humano. O que objetam é que este ser humano ainda não seria uma “pessoa humana”. A partir desse pressuposto, as divergências entre os abortistas são grandes. Alguns dirão que este ser humano se tornará “pessoa humana” a partir da formação da placenta, outros dirão que a partir da formação do coração, outros defendem que a personalidade se forma com o sistema nervoso central e por fim, existem os que defendem que se torna “pessoa humana” somente após o nascimento. Estes últimos chegam a defender o que se chama partial-birth abortion, ou seja, “aborto do parcialmente nascido”. Em tal procedimento, assim que se dá o coroamento (coroamento é a aparição da cabeça do feto durante o trabalho de parto), faz-se a sucção do cérebro da criança – certamente aqui se trata de um claro infanticídio.

Todas as tentativas de colocar esse início da “personalidade” em algum momento concreto do desenvolvimento embrionário ou fetal serão sempre arbitrárias. Se colocarmos o início da “personalidade” em alguma função ou órgão, porque não poderíamos dizer que está no começo do exercício da consciência? Alguns autores já afirmam isso e, consequentemente, defendem que o infanticídio – matar crianças que não tenham o exercício de atividade consciente – é moralmente e eticamente válido, pois não seriam “pessoas humanas”.

Por essas discussões é que afirmo que não importa a partir de quando aquele ser humano se tornará pessoa. O importante é que se trata de um ser humano, e que merece todo o respeito e proteção que devemos a qualquer outro ser humano, independente das funções que possa exercer.

ZENIT: Quais são as tragédias que o aborto traz para uma nação que o aprova na sua legislação?

PE. HELIO: A tragédia mais profunda é a instituição de uma “cultura de morte”, que não respeita o sofrimento das mães – muitas são quase induzidas socialmente ou economicamente a realizar o aborto – e nem o direito básico dos próprios cidadãos mais indefesos, aqueles que ainda estão por nascer. É irônico que tais sociedades possuem legislações bastante rigorosas para a defesa de embriões animais, enquanto os seres humanos estão totalmente indefesos. Hoje é mais seguro nascer feto de baleia do que feto humano.

Derivada desta “cultura de morte” nasce uma atitude de egoísmo generalizado – o importante não é mais o “bem comum” da sociedade, mas o individualismo, o bem de cada um. Deixamos de viver em sociedade como modo de nos aperfeiçoarmos como seres humanos sociais que somos, para converter-nos, como dizia Hobbes, em lobos para os outros lobos.

O processo de degradação da sociedade – em todos os pontos de vista – também é uma consequência da chamada “cultura de morte”. Se o Direito, base da civilização ocidental, perde sua raiz profunda que o justifica – ou seja, a natureza humana e a defesa do mais débil – a civilização toda se ressente. A crise – social, econômica, moral – da sociedade atual não é mera coincidência. Será mera coincidência que os países com menor taxa de nascimento e maior índice de aborto – Grécia, Portugal, Espanha e Itália – são aqueles com maior crise econômica?

Historicamente, toda a civilização que desrespeitou os valores básicos do ser humano, entrou em decadência e desapareceu. O exemplo mais claro foi a degradação do Império Romano – quando deixou de velar pelos valores básicos, tornando-se meramente “populista”, ampliou seu domínio físico, mas perdeu sua força moral. Não foi a invasão dos chamados “povos bárbaros” o que acabou com Roma – este foi só o golpe final que fez cair o que por dentro já estava moralmente destruído.

ZENIT: O senhor já se encontrou com católicos que aprovam o aborto? Eles podem ser considerados pessoas que estão fora da doutrina e da moral católicas?

PE. HELIO: A Igreja é uma realidade divina, mas que também possui leis e autoridades que devem ser respeitadas. Assim como eu não posso, simplesmente, declarar-me membro da Academia Brasileira de Letras – porque é necessário uma série de requisitos para pertencer a esta Academia – ninguém pode por si mesmo, sem cumprir certos requisitos, ser declarado um membro da Igreja. Deste modo, católicos de fato que defendam o aborto não existem e não podem existir. Se alguém defende o aborto, jamais poderá ser considerado um membro da Igreja, ou seja, não pode participar do Corpo de Cristo.

Por outro lado é um fato que existem grupos de pessoas que se dizem católicas – mas não o são de fato – e que ao mesmo tempo defendem o aborto. Quem sabe o grupo mais expressivo seja aquele que se autodenomina “Católicas pelo direito de decidir”. Certamente os membros deste grupo não são de fato católicos, pois defendem algo absolutamente contrário à própria humanidade – o direito de matar um inocente. É verdade, como já dissemos antes, que a liberdade é um bem, mas não é um bem absoluto. Este bem – o da liberdade – está por debaixo do direito mais elementar de todos, o direito à vida, o bem maior defendido pelo Direito.

Neste sentido, por que não criamos grupos como “Católicos pelo direito de assassinar”, ou “Católicos pelo direito de roubar”. Certamente é uma ironia, mas, às vezes, esta se faz necessária para entender o quão absurdo são os argumentos. Assassinar ou roubar também são atos de liberdade, mas nem por isso alguém pode defender esta liberdade como um valor – pois lesaria valores mais altos, o da vida e o direito à propriedade privada. Do mesmo modo quem defende uma liberdade para matar uma criança dentro do ventre materno, lesa o direito à vida desta criança e, deste modo, não tem o direito de reclamar tal liberdade.

ZENIT: Por que o aborto traz uma das penas canônicas mais sérias do direito canônico, segundo o cânon 1398?

PE. HELIO: Dizíamos, em outro ponto da entrevista, que o Direito tem um fundamento natural, ou seja, expressa o verdadeiro modo de ser da humanidade. O Direito da Igreja, chamado “Direito Canônico”, também tem a mesma raiz natural, além, também, de regular matérias que conhecemos por Revelação.

Desde um ponto de vista natural, como víamos antes, trata-se de um crime hediondo: não apenas se está matando a um ser humano inocente e indefeso, mas se está matando o próprio filho na fase da vida que ele mais necessitava da proteção dos pais. Desde um ponto de vista sobrenatural, baseado na Revelação divina, é algo ainda mais grave – o assassinato de um filho de Deus que tinha sido confiado a estes pais.

As penas no Direito – seja civil ou canônico – sempre devem ter um caráter de proteger um bem, ou seja, de evitar um crime, além do caráter medicinal. Falando em relação ao Direito civil, alguns acusam os católicos de serem desumanos quando pedem a punição da mulher que realiza o aborto. A punição existe para prevenir o crime, ou seja, em defesa da vida do indefeso. Despenalizando o aborto perdemos esta proteção importante para a vida do mais débil. Além disso, na maioria das vezes, a mulher que realiza o aborto é a menos culpada deste ato – normalmente ela está em meio a um conjunto de pressões sociais, sentimentais e econômicas. Os principais culpados – e consequentemente os que deveriam ser mais duramente punidos – são aqueles que induzem e realizam o ato ilegal e imoral do aborto.

Em relação ao Direito Canônico, para que se entenda a gravidade da ofensa ao próximo – sendo este “próximo” o próprio filho – e, consequentemente, a gravidade da ofensa a Deus, é reservada a este pecado a pena da excomunhão latae sententiae. Certamente a palavra excomunhão soa forte aos ouvidos da opinião pública e de fato é a pena mais severa da Igreja – desligar um membro da comunhão com a Igreja. Com latae sententiae se indica que a excomunhão é automática, ou seja, quem comete ou induz alguém a cometer um aborto ou participa da execução do mesmo, automaticamente está excluído da comunhão com a Igreja e, consequentemente, com o Corpo de Cristo.

Ainda sendo a pena mais grave da Igreja, a pena de excomunhão não condiz com o aquilo que o imaginário popular interpreta por excomunhão. Trata-se, como foi dito, de uma pena preventiva, educativa e medicinal. Em primeiro lugar, sendo uma pena tão grave, só recai nela quem cometeu com certeza um aborto – se alguém realiza uma tentativa de aborto sem “êxito”, comete um pecado grave, mas não é excomungado. Também só é excomungado quem sabia, ainda que imperfeitamente, da existência de uma pena especial. Além disso, as pessoas que cometeram, induziram ou participaram de um aborto – e consequentemente estão excomungadas – podem pedir e receber o perdão pelo pecado cometido e o levantamento da pena de excomunhão. Cada diocese possui alguns sacerdotes – em algumas dioceses todos os sacerdotes – habilitados para levantar esta pena, dando logicamente alguma penitência especial, para que se entenda a gravidade do pecado cometido. Normalmente a maior penitência para uma mãe que cometeu aborto é o sofrimento que carrega – por toda a vida – por sentir a culpa de ter matado seu próprio filho.

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Aprovar o aborto seria um retrocesso para o Brasil (Parte 1)

25 Segunda-feira Jun 2012

Posted by marcosmarinho33 in Da Doutrina

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aborto, agricultura, aprovação, bebê, bioética, controle de natalidade, crescimento demográfico, criança, ecologia, escassez, feminismo, gestação, interrupção, legalização, mulher, Padre Hélio Luciano, recursos, saúde, teoria malthusiana, vida

Entrevista com especialista em bioética, Pe. Helio Luciano

Por Thácio Siqueira

BRASILIA, quinta-feira, 21 de junho de 2012 (ZENIT.org) – De forma muitas vezes velada o Aborto tem sido introduzido em diversos países com raízes cristãs. Introduzido como prática legal e até mesmo financiado pelos governos e por grandes fundações internacionais.

No dia 18 de abril desse ano o Pe. Helio nos concedeu uma entrevista sobre as causas da aprovação do aborto de anencéfalos pelo STF no Brasil. Para ler essa entrevista clique aqui.

Dessa vez, para continuar ajudando os católicos do Brasil a refletirem sobre o tema, o Pe. Helio Luciano, mestre em bioética pela Universidade de Navarra, mestre em Teologia Moral pela Pontificia Universidade Santa Cruz em Roma e membro da comissão de bioética da CNBB, concedeu a ZENIT mais uma entrevista para esclarecer alguns pontos em relação ao aborto e ao perigo da aprovação do aborto numa nação.

Hoje publicamos a primeira parte dessa entrevista.

***

ZENIT: Por que o aborto não deve ser legalizado no Brasil e em nenhum país? Os defensores da causa abortista alegam que a aprovação do aborto numa nação é sinal de progresso e desenvolvimento. Realmente é assim? A visão da Igreja católica não é uma visão redutiva da realidade?

PE. HELIO: O Direito nasceu – historicamente – para defender o mais fraco. Por exemplo; se um indivíduo tivesse várias posses materiais poderia vir a pressionar – através da ameaça ou outros meios coercitivos – um pobre a vender a sua terra. O Direito, na raiz da civilização, surge para defender a esse pobre que não poderia defender-se por si mesmo. Além disso, o Direito possui uma raiz natural, ou seja, deve respeitar a natureza e a verdade das realidades que regula – no exemplo citado anteriormente, podemos ver que a base natural é o direito que todos possuem à propriedade privada e o direito básico de uma pessoa ter o mínimo para sua sobrevivência.

Aprovar o aborto, ou despenalizá-lo, seria um retrocesso jurídico da nossa sociedade e, consequentemente, um retrocesso da nossa civilização – negaríamos a mesma raiz do Direito, ou seja, a sua base natural e a defesa do mais fraco.

Cientificamente, hordiernamente, ninguém pode duvidar que um embrião humano seja um ser humano – com um DNA humano único e irrepetível. É uma clara evidência científica – se pegamos uma célula deste embrião podemos afirmar claramente que é um indivíduo da espécie Homo sapiens sapiens.

O que se coloca em jogo, então, não é a possibilidade de eliminar algo que não seria uma vida humana, mas sim o conflito entre duas liberdades – a do embrião e àquela da mãe. É verdade que pode haver este conflito – e que, muitas vezes, existe de fato – mas, como víamos antes, a quem o Direito está chamado a defender? A vida de um ser inocente e indefeso ou a liberdade de uma mulher que não quer conceber este indivíduo (gerado por ela)? Quem é o mais débil, o mais fraco? Qual o bem maior – a vida de um ser, base de todos os demais direitos ou a liberdade de outro? Certamente o Direito – tal como foi concebido, com base em uma raiz natural – deveria defender aqui o direito básico à vida.

Que as nações chamadas de “Primeiro Mundo” tenham cometido este retrocesso civilizatório e jurídico não converte o aborto em sinal de progresso. É mais, seria um claro sinal de retrocesso. Há países na Europa cujo número de crianças abortadas supera o número de crianças nascidas. Falando só desde o ponto de vista econômico, não é esta uma das causas da crise europeia? Falta população que gere consumo interno, gerando produção e gerando emprego.

A “cultura de morte” jamais gerou progresso. Gera egoísmo, falta de doação, falta de caridade. Que sociedade é essa “civilizada” que considera os filhos não como um bem, mas como um mero problema a ser eliminado? Que sociedade civilizada é essa que mata aos seus próprios filhos, cidadãos e membros desta mesma sociedade?

Para evitar este retrocesso em todos os sentidos – humanista, moral, ético, jurídico, social – é que o aborto não deveria ser aprovado no Brasil e em nenhum lugar do mundo.

Por fim, a Igreja sempre foi e continua sendo mestra de humanidade. Certamente não está sendo redutiva neste ponto, mas está pedindo à humanidade que venha a ser humana de fato. Está pedindo que respeitemos o mais básico dos direitos – aquele da vida de um ser inocente. O reducionismo não é da Igreja, mas sim deste grupo de pessoas que se sentem iluminadas, que – com um alto grau de miopia – enxergam o retrocesso como progresso, enxergam o assassinato como liberdade.

ZENIT- A resposta da Igreja Católica a favor da vida do nascituro é uma resposta somente baseada na Sagrada Escritura, como pensam alguns?

PE. HELIO: Deus revelou muitas verdades aos homens, e muitas delas através da Sagrada Escritura. Dentre essas verdades reveladas, podemos dizer que existem dois tipos: as verdades totalmente sobrenaturais, que o homem jamais seria capaz de alcançar com suas próprias forças, como, por exemplo, a verdade de que Deus é Uno e Trino, ou a entrega de Cristo na Eucaristia. Esse tipo de verdade, logicamente, exige a fé. Por outro lado Deus também revelou algumas verdades de ordem natural, ou seja, verdades que o homem seria capaz de alcançar com suas próprias forças. Neste sentido, podemos dizer que somos ajudados a alcançar e entender essas verdades básicas. Porém, se alguém não tem fé ou não conhece a Sagrada Escritura, também é capaz de alcançar tais verdades.

Uma dessas verdades naturais – que qualquer pessoa com o uso de razão é capaz de alcançar – é a proibição de matar a um inocente. Culturas não católicas e não cristãs são capazes de entender essa obrigação humana. Países como o Japão, por exemplo – sem influxo cristão – possui legislação que defende a vida do inocente.

Portanto a questão da defesa da vida do embrião ou do feto não é um tema religioso. É uma questão de humanidade. Neste sentido, poderá de fato um dia haver leis contrárias à defesa da vida, mas jamais serão verdadeiras leis, porque serão contrárias ao próprio modo de ser do homem.

ZENIT- Outro dos argumentos usados em favor do aborto é o crescimento demográfico, que, segundo alguns, é algo que ameaça a vida do planeta. É válido esse argumento?

PE. HELIO: As teorias malthusianas parecem ter entrado de tal modo na cultura mundial, que se dá por suposto algo que, comprovadamente, é falso. Nestas teorias – que tiveram tanto êxito nos séculos XIX e XX – se dizia que o crescimento populacional se daria em progressão geométrica, enquanto os recursos humanos cresceriam em progressão aritmética. Deste modo, em poucas décadas, haveria uma completa escassez de recursos no planeta.

A mesma teoria malthusiana agora volta a estar de moda. Desta vez ela vem disfarçada com uma nova roupa, a do “ecologismo”, e com traços apocalípticos – como se o homem fosse o único mal da terra e esta estivesse a ponto de ser destruída. Chegamos à geração “Avatar” – que exalta a ecologia ao mesmo tempo em que mata seus próprios filhos. É verdade que não podemos desrespeitar o mundo que nos foi dado, é verdade também que temos um dever de justiça de deixar o mundo para as gerações futuras, mas é fundamental entender que o mundo está em função do homem – para ser utilizado racionalmente e com respeito.

A grande escassez de recursos anunciada por Malthus jamais se cumpriu. Os avanços na agricultura – desde a invenção do trator até as altas tecnologias utilizadas para as sementes – aumentaram a produção agrícola de modo vertiginoso e muito maior que qualquer previsão. As terras cultivadas hoje – segundo dados do Banco Mundial e da ONU – chegam somente a 24% do total de terras que ainda podem ser cultivadas no mundo. Além disso, as novas tecnologias constantemente permitem que terras consideradas inférteis sejam passíveis de cultivo – como, por exemplo, muitos hectares de terras antes consideradas desérticas em Israel. O fato de que ainda exista fome no mundo não se dá pelo excesso de população, mas sim pela ganância de poucos.

Com base em tudo que foi visto, é lógico que considerar o crescimento demográfico como uma ameaça à vida do planeta é uma teoria ultrapassada e absolutamente sem nenhuma evidência científica. O controle de natalidade – muitas vezes desrespeitando a própria liberdade da mulher através de esterilizações forçadas – antes de ser uma solução para o respeito ao meio ambiente, é uma das causas da crise. O aborto, como forma de controlar o crescimento demográfico, traz uma “cultura de morte” incompatível com o próprio modo de ser da humanidade. Como podemos querer respeitar o planeta se não somos capazes nem mesmo de respeitar aos nossos filhos?

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“A mão da Igreja é doce também quando golpeia, pois é a mão de uma mãe.” S. Pio de Pietrelcina

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‎”Cristão é meu nome e Católico é meu sobrenome. Um me designa, enquanto o outro me especifica. Um me distingue, o outro me evidencia. É por este sobrenome que nosso povo é diferenciado dos que são chamados heréticos.” São Paciano de Barcelona

‎”Foi Sempre privilégio da Igreja, Vencer quando é ferida, Progredir quando é abandonada, e Crescer em ciência quando é atacada.” (Santo Hilario de Potiers, Dr. da Igreja).

‎"Foi Sempre privilégio da Igreja, Vencer quando é ferida, Progredir quando é abandonada, e Crescer em ciência quando é atacada." (Santo Hilario de Potiers, Dr. da Igreja).

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